29.12.08

Gentileza gera gentileza


A natureza não vende terra,
a natureza não cobra pra dar alimentação para nós.
Esse dia lindo,
essa luz que está em cima de nós, a nossa vida,
ou seja, vem do mundo, é de graça,
é Deus nosso Pai que dá.
Agora o capeta do homem que é o capitalismo, é que vende tudo, destrói tudo,
destruindo a própria humanidade.
Capeta vem de origem capital.
É o vil metal
Faz o diabo, demônio marginal.
Por esse motivo, a humanidade vive mal.
Mal de situação,
mau de maldade,
porque o capitalismo é falsidade,
o pranto de toda a maldade,
raiz de toda a perversidade do mundo.
É o dinheiro.

O dinheiro destrói a mente da humanidade.
O dinheiro coloca a humanidade surdo.
O dinheiro destói o amor.
O dinheiro cega.
O dinheiro mata.
Todo dia você lê jornal, ouve rádio,
televisão, só vê barbaridade:
é crime, é assalto, é sequestro, é vício, nudez, devassidão, fome e guerra.
Vai ver qual é a causa:
capitalismo.


Gentileza Gera Gentileza é uma acção global criada para espalhar as mensagens de amor e de paz, que foi lançada originalmente por José Datrino, o Profeta Gentileza. José Datrino foi um homem que renunciou à materialidade para se tornar o professor do amor, da compaixão e da beleza de espírito. Era ele o Profeta Gentileza.

José Datrino, chamado Profeta Gentileza (nasce em São Paulo, a 11 de abril de 1917 — e morre em São Paulo, a 29 de maio de 1996), tornou-se conhecido a partir de 1980 por fazer inscrições peculiares sob um viaduto no Rio de Janeiro, onde andava com uma túnica branca e longa barba. José Datrino teve uma infância de muito trabalho, na qual lidava diretamente com a terra e com os animais. Para ajudar a família, puxava carroça vendendo lenha nas proximidades. O campo ensinou a José Datrino a amansar burros para o transporte de carga.

No dia 17 de dezembro de 1961, na cidade de Niterói, houve um grande incêndio no circo "Gran Circus Norte-Americano", o que foi considerado uma das maiores tragédias circenses do mundo. Neste incêndio morreram mais de 500 pessoas, a maioria, crianças. José Datrino que se dedicava ao transporte de mercadorias, pegou num de seus camiões e foi para o local do incêndio. Plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo em Niterói. Aquela foi a sua morada por quatro anos. Lá, José Datrino incutiu nas pessoas o real sentido das palavras Agradecido e Gentileza. Foi um consolador voluntário, que confortou os familiares das vítimas da tragédia com as suas palavras de bondade. Daquele dia em diante, passou a se conhecido por "José Agradecido", ou simplesmente “Profeta Gentileza”. Quatro anos passados, começou a sua jornada como personagem andarilho. A partir de 1970 percorreu toda a cidade. Era visto em ruas, praças, nas barcas da travessia entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, em trens e autocarros, fazendo sua pregação e levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. Aos que o chamavam de louco, ele respondia: - "Sou maluco para te amar e louco para te salvar".

Aos poucos, torna-se um personagem reconhecidamente popular. Cria provérbios e máximas para alcançar as pessoas, ensina a gentileza e proclama os costumes em plena época do movimento hippie, do rock e da minisaia.

Gentileza jamais aceitou dinheiro das pessoas: "é mais fácil um burro criar asas e avoar do que um centavo de alguém aceitar". Ao contrário, denunciava: "cobrou é traidor - o padre está esmolando, o pastor tá pastando e o Papa tá papando, papão do capeta capital".

A pregação anti-capitalista constituiu a denúncia maior do Profeta. Às vezes foi tomado como comunista, tendo que explicar às "autoridades" o porquê das iniciais PC em seu estandarte (na época). Na ambigüidade criada, não se tratava de uma vinculação ao Partido Comunista, mas ao Pai Criador.

Todos esses aspectos contribuem para que, cada vez mais, Gentileza apareça e se destaque na sociedade da época. Gentileza era um caminhante incansável, que estendeu sua presença a vários bairros do Rio de Janeiro, às cidades da Baixada Fluminense, a Niterói e São Gonçalo.
Em fins dos anos 60, o Profeta inicia uma série de viagens que o tornarão conhecido no interior do País. Nessa época, retorna a Mirandópolis reapresentando-se como Profeta Gentileza. Em 1970, parte para o interior de Mato Grosso, rumo a Campo Grande e Aquidauna (atual MS), para pregar a gentileza. Nessa última urbe, sofreu sua primeira grande adversidade como profeta: foi detido por policiais que o conduziram à delegacia.

Nos anos 70 desponta seu culto à brasilidade, aos temas da bandeira nacional e ao herói cívico de maior expressão na história do País: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Sua admiração a Tiradentes levou-o várias vezes a Minas Gerais e, especificamente, a Ouro Preto, onde se abrigava em igrejas e repúblicas de estudantes. O monumento a Tiradentes na praça central da cidade era seu principal local de referência.

Foi numa dessas idas a Ouro Preto, no convívio com os estudantes que estes lhe sugeriram o uso de uma bata, que acabaria por marcar definitivamente sua figura mística. Em outros municípios, Gentileza também explicitou seu respeito por Tiradentes.

A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Caju, que vai do Cemitério do Caju até a Rodoviária Novo Rio, numa extensão de aproximadamente 1,5km, e encheu as pilastras do viaduto com inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar da civilização.

Em 29 de maio de 1996, aos 79 anos, faleceu.

Com o decorrer dos anos, os murais foram danificados por pichadores, por isso mais tarde foi organizado o projeto Rio com Gentileza, com o objetivo restaurar os murais das pilastras. Começaram a ser recuperadas em Janeiro de 1999. Em Maio de 2000, a restauração das inscrições foi concluída e o património urbano carioca foi preservado.

Esta obra, agora recuperada, constitui uma cartilha com os preceitos básicos de Gentileza à população. É um Livro Urbano, onde cada pilastra é uma página e a leitura é feita à janela dos veículos que por ali passam continuamente. Assim como o episódio do circo inscreveu Gentileza na memória popular, suas viagens pelo Brasil e suas inscrições, perenizadas na entrada do Rio de Janeiro, fizeram dele um dos maiores personagens populares do Brasil. A estrutura dos seus escritos e sua grafia, uma vez vistos, tornam-se inconfundíveis

Os temas do circo, do mundo como escola (Escrito 55) e a parábola do livro e da sabedoria aparecem tratados com singeleza. A questão da gentileza é, de novo, um despertar para atitudes: vivemos nas cidades rodeados de indiferença. O que gera a violência é o anonimato no meio da multidão... Gentileza pregava o amor fraterno e propunha às pessoas que dessem atenção umas às outras e criassem intimidade, o que faz muito bem à saúde. Um Profeta é isso: alguém que ilumina as pessoas

Gentileza era um ser da comunicação. A imprensa sempre nutriu por ele um interesse, talvez por cauda da sua inventividade, do seu caráter exótico e "tropicalista". Mas a sua própria máxima, gentileza gera gentileza, já começa a ser utilizada em campanhas publicitárias que encobrem fins comerciais.

Impõe-se assim explicitar, criticamente, um modo de apropriação do proclame da gentileza, onde esta se revela muito mais como uma proposição de natureza ética do que uma marca.

O tema central da mensagem do Profeta é a oposição que se estabelece entre a gentileza e o capital. Enganamo-nos, então, se vemos na gentileza uma mera oposição à violência. Esta visão é ainda uma leitura de superfície, tanto dos fatos, quando da sua simbólica. Para o Profeta, a violência, assim como outros males da sociedade se produzem a partir do vil metal.

Dos 56 escritos do viaduto do Caju, quase a metade destes descrevem os ensinamentos da gentileza e das suas virtudes, pontuando alguns outros temas da sua pregação; em cerca de 30 pilastras, aparece com toda a ênfase, a sua denúncia profética do capitalismo, "que vende e destrói tudo", "que cega a humanidade... e leva para o abismo".


Consultar:
http://www.gentileza.net/
http://www.riocomgentileza.com.br/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Profeta_gentileza
www.portalverde.com.br/fundacao_gentileza/o_profeta/profeta.htm

Video musical de Marisa Monte – Gentileza




Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca

Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza

Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria

O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta

Activistas ambientais apagam as luzes dos letreiros dos anúncios e dos néons comerciais em Paris porque representam um desperdício energético inútil



Nesta época do ano, Paris - também conhecida como "Cidade Luz" - fica ainda mais iluminada por causa das milhares de luzes de Natal em prédios comerciais e residenciais na cidade.
Um grupo de jovens defensores do meio ambiente resolveu combater o excesso de gastos com energia eléctrica desligando letreiros luminosos de lojas durante a noite. Designam-se por «clã do néon» e defendem que a lei não proíbe o acto, contanto que ela ocorra na parte externa do estabelecimento. São acções não-violentas que já não se limitam à cidade de Paris e que servem para lutar contra a poluição luminosa das cidades que impede observarmos as estrelas, para além de representarem um desperdício de energia, quando os estabelecimento estão fechados, as pessoas nas casas, ficando apenas a alimentar a publicidade luminosa.

«Trata-se de um acto simbólico, mas queremos servir como exemplo para outras pessoas. Não existem pequenas economias e sim apenas economias», afirma David Drui, integrante do grupo .

Note-se que os néons têm uma potência média de cerca de 50W/metro, e a factura anual de electricidade associada aos néons representa algumas centenas de euros anuais, o que multiplicando pelos inúmeros estabelecimentos e anúncios publicitários luminosos chega facilmente a despesas inúteis de muitos milhões de euros.

http://clanduneon.over-blog.com/



Manifesto

La nuit, dans les rues commerçantes parisiennes, nous nous retrouvons souvent face à des enseignes lumineuses restées allumées. Des néons de boutiques qui ont pourtant fermé leurs portes...

A quoi servent ces néons ? A rendre la ville plus belle ? A continuer à marquer la présence d'un commerce ? A imposer une marque, un logo, une "identité" ?

ÉTAT DES LIEUX

Les enseignes des boutiques allumées toute la nuit représentent tout d’abord une agression publicitaire supplémentaire. Mais même au-delà de ce sentiment de harcèlement pesant, quel commerçant peut sincèrement considérer que ces néons allumés dans des rues presque désertes sont efficaces pour augmenter ses ventes ?

De plus, ces néons consomment une quantité importante d’énergie. Alors qu’on gaspille, des gens dorment dans les renfoncements des boutiques. Sans parler de l’impact écologique de ces consommations d’énergie dans le contexte actuel de raréfaction des ressources et de réchauffement climatique.
Les néons engendrent donc une double pollution, celle pour produire l’électricité mais aussi celle, lumineuse, qui nous empêche de voir les étoiles...

UNE ACTION SENSEE ET NON VIOLENTE

On peut tous lutter contre cette dérive, en éteignant simplement ces néons. Il suffit de désactiver les boîtiers néons (voir vidéo de démonstration). C’est un geste simple et non violent, qui ne dégrade pas les biens. Nous avons commencé à agir et nous comptons sur vous pour que le mouvement se diffuse. Toutefois, dans certains cas, nous reconnaissons l'intérêt des enseignes lumineuses. Nous luttons avant tout contre leur utilisation abusive, au service de la publicité. Nous sélectionnons avec attention les néons que nous éteignons. nous n’agissons jamais sur un commerce ouvert, un café ouvert, une pharmacie ouverte... En revanche, en cas d’abus, nous n’hésitons pas. Le plus marquant étant le cas de certaines banques, dont les horaires sont restreints mais qui continuent d'afficher fièrement leur logo... de banque... la nuit. Des repères ? Oui mais trop de néons tuent le néon utile ! Trop de lumière éblouit ! Une enseigne indiquant un distributeur de billets, d'accord ; toute la banque allumée pour un distributeur de billets, non.


Nous espérons que nos actions continueront à vous ravir et qu'elles seront même suivies et imitées, pour que les commerçants prennent enfin conscience de cette absurdité, et prennent les mesures nécessaires. C’est ce qu’exprime notre logo, paradoxalement en lettres de néon, qui ne s’éteindra avec notre “clan” qu’une fois que les commerces éteindront leurs enseignes la nuit.

L'éclairage de la voie publique ne doit pas être financé par des fonds privés, mais par des fonds publics. C'est pourquoi tant que les rues seront inondées de néons privés, tant qu'elles seront dénaturées par la publicité imposée, nous continueront d'exprimer notre désaccord et notre mécontentement en éteignant les néons. Alors Paris redeviendra une "ville lumière", où l'éclairage public guide les pas des artistes, des peintres des écrivains, éclairant ses habitants, plutôt qu'une "ville néon" telle Las Vegas, temple de l’absurdité de l’argent considéré comme fin et non simplement comme moyen. Nous irions bien y faire un tour d'ailleurs... Du boulot en perspective !



Um Dicionário da Anarquia, organizado por Michel Ragon, acaba de ser editado em França


Na Abadia de Thélème, imaginada por Rabelais, fazia-se o que se queria. Este constituiu um dos antecedentes daquilo que alguns séculos mais tarde se veio a designar por anarquia. As bases deste anti-sistema floresceu no lastro do iluminismo com William Godwin e Charles Fourier, mas o verdadeiro teorizador da anarquia foi, sem dúvida, Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), autor de uma doutrina política socialista que sempre se mostrou extremamente crítica em relação a outra corrente de pensamento, o socialismo de Karl Marx.

Enquanto movimento político propriamente dito, a anarquia só aparece por volta de 1880, pouco depois da morte do aristocrata Michel Bakounine (1814-1876), considerado o pai de todos os anarquismos, e que foi excluído por Marx da Internacional. A anarquia assume-se como um movimento exterior a todos os partidos, e agrega múltiplas variantes e tendências.


«O que há de comum entre o anarquismo individualista, de Stirner a E.Armand, e o comunismo libertário de Kropotkine senão a oposição mais completa ao aparelho estatal ? Assim como, pouco ou nada há em comum entre o pacifismo integral do anarquista Louis Lecoin, e a sua defesa da objecção de consciência, e o nihilismo terrorista, já sem falar do anarquismo cristão ou, até mesmo, do anar-capitalismo»

Michel Ragon acaba de editar em França um Dicionário da Anarquia destinado a esclarecer uma corrente de pensamento e um movimento social muito pouco conhecido pelas pessoas em geral. Um pensamento que Michel Ragon, filho de camponeses, e hoje octogenário ( nasceu em 1924), sempre partihou, e o marcou no seu percurso de autodidacta, desde o tempo que era alfarrabista nas margens do Sena até se ter consagrado como crítico de arte e de arquitectura.

De Proudhon a Cohn-Bendit, de Brassens a Léo Ferré, de Mirbeau a Camus, de Breton a Sartre, de Henry Thoreau a Herbert Marcuse, da Surréalisme ao Situationnisme, sem esquecer desenhadores como o belga Frans Masereel ou o pintor impressionista Camille Pissarro, a família libertária é de uma espantosa riqueza e de uma enorme diversidade, o que constitui simultaneamente o seu ponto fraco mas também a sua maior capcidade de atracção. Ora é todo este panorama que a obra de Michel Ragon, agora editada, pretende dar conta sob o ambicioso título, Dicionário da Anarquia.

Os nunerosos jornais e publicações que pontuam a história do anarquismo atestam essa vitalidade. Basta lembrarmo-nos que o jornal «A anarquia», título publicado por Anselme Bellegarrigue em Abril de 1850, e que foi o primeiro em França a reclamar-se do anarquismo, tinha como subtítulo a expressão «jornal da ordem». Tal não impede que o mesmo título seja escolhido para outra publicação, por Albert Libertad, em 1905, em que se assumia claramente uma postura anti-sindical, anti-obreirista, anti-pacifista, onde a crítica ao álcool e ao tabaco era acompanhada pela defesa do amor livre.

Para ajudar à polémica, a definição que Prodhon dá de anarquia é tudo menos pacifica :

«A anarquia é uma forma de governo, ou constituição, na qual a consciência pública e privada formada pelo desenvolvimento da ciência e do direito se mostra suficiente para a manutenção da ordem e da garantia de todas as liberdades, e em consequência, o princípio de autoridade, as instituições de polícia, os meios de prevenção e de repressão, o funcionarismo, etc, encontram-se reduzidos à mais simples expressão, e em que as formas monárquicas, assim como a forte centralização, são substituídas por instituições federativas e os usos comunais» ( "L’anarchie est une forme de gouvernement, ou constitution, dans laquelle la conscience publique et privée formée par le développement de la science et du droit suffit au seul maintien de l’ordre et à la garantie de toutes les libertés, où par conséquent le principe d’autorité, les institutions de police, les moyens de prévention et de répression, le fonctionnarisme, etc., se trouvent réduits à leur plus simple expression, où les formes monarchiques, la haute centralisation, remplacées par les institutions fédératives et les mœurs communales, disparaissent." )

Até mesmo o lema «Nem Deus Nem Senhor», que é reivindicado pelos anarquistas contemporâneos, resulta de uma expressão de autoria de Blanqui que serviu de título para o seu jornal de 1880.

Não falta sequer neste dicionário a menção do nihilismo dos terroristas russos, referidos por Tourgueniev, Tchernychevski, Dostoïevski ou Nietzsche, ou os terroristas franceses, que se reivindicam anarquistas, desde Ravachol à Bande de Bonnot, ou mesmo da Action directe.
Figura tutelar em todo este movimento é, sem dúvida, Louise Michel (1830-1905), professora e conhecida figura da Comuna de Paris, a quem é reservada uma atença especial nas múltiplas entradas de que é constituído este valioso dicionário da anarquia


Música cigana e balcânica na passagem de ano no bar-livraria Gato Vadio ( a partir das 21h30)


Isto do comércio a retalho nunca se pode ter certezas e o melhor é o caro cliente franzir o sobrolho assim que nos veja atrás do balcão.

Nós que recusamos todas as formas do marketing indirecto, nós que escarnecemos das leis do comércio, que injuriámos o livro de reclamações até ao terceiro tomo, que nos esquivamos aos guichets burocráticos, que não deixamos o freguês sem troco, que atirámos a primeira e a última pedra, nós que estamos aqui para não ter de aturar mais ninguém, o Papa, o presidente do Infesta, o chefe de repartições, o gerente e o padreco, os mass media, o chulo, as valdovinas, íamos agora perder tempo a organizar uma noite de gala, quando a Gala já foi galada pelo Dalí enquanto o diabo esfregava o olho e os bigodes estratosféricos do Salvador, e, caro freguês, salvarmo-nos de quê?
Nós que para o ano prometemos erradicar o caruncho das cadeiras, nós que para o ano vamos adquirir – se os critérios de Co-invaginência permitirem e a ministra autorizar – outro aquecedor made in china para aplacar a friagem, nós que ao que tudo indica vamos pôr uns atoalhados novos, quiçá um sistema de wire-less assim que as teias de aranha sejam varridas dos frisos, que perdemos a cabeça e arranjámos um rádio a pilhas, pois o ano passado dando sinais de uma alienação à prova da Situação, esquecemo-nos, melhor, nem sequer nos ocorreu, que deveríamos estar atentos ao final Countdown, mas enquanto não trazemos os Europe – it’s the finest shut down!! – já frisámos os cabelos dos pés, e preparámos um Kit-míssil-calçado cosido à mão ali no vale do Ave, onde se mantêm algumas tradições árabes intactas apesar de não terem em todos os tempos possíveis e imagináveis a tal biblioteca de Bagdade que tinha mais livros na Idade Média que todas as bibliotecas juntas da nossa Europe tão civilizada e cujos altos desígnios mandaram escangalhar, pois dizíamos, a troco de uns tustos oferecemos o tal Kit-míssil-calçado para bombardear com chulé artesanal o ano velho e, vá que não vá, uma tacinha de champagne já que no ano passado sobraram três garrafinhas, e juntos cantaremos louvores ao novo ano pois continuaremos a chafurdar na mesma pocilga, e nós que temos com isso, e vem virá vir-se-à o famous grouse e o capão de Freamunde, venham, venham todos e todas que se nós pudermos ficamos em casa com os pés-de-molho, tanto calo e frieiras de tanto trabalhar um ano inteiro, por que esta vida de feirante e farsante não é para qualquer um, e venha a música da ciganada, a euforia balcânica, e se no ano passado prometemos a depressão e a loucura, vamos então dar lugar aos casamentos e funerais, a bem dizer, os vadios não passam de angelicais meninos de aliança e sinistros cangalheiros.
Que o Gato Vadio se aguente com o pernil ao alto antes que a dona Chica lhe arrume o pau…admiram-se?


Passagem de Ano no Gato Vadio

Música cigana e balcânica.

Taxa solidária vadia: 4€ (inclui champagne a rodos…)…

A partir das 21h30

Rua do rosário 281, Porto