12.5.08

Carta aos meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya ( um dos mais brilhantes textos poéticos de Jorge de Sena)


Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja aquele que eu desejo para vós.
Um simples mundo, onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém de nada haver que não seja simples e natural. Um mundo em que tudo seja permitido, conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer, o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.

E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto o que vos interesse para viver. Tudo é possível, ainda quando lutemos, como devemos lutar, por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, ou mais que qualquer delas uma fiel dedicação à honra de estar vivo.

Um dia sabereis que mais que a humanidade não tem conta o número dos que pensaram assim, amaram o seu semelhante no que ele tinha de único, de insólito, de livre, de diferente, e foram sacrificados, torturados, espancados, e entregues hipocritamente à secular justiça, para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»

Por serem fiéis a um deus, a um pensamento, a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas à fome irrespondível que lhes roía as entranhas, foram estripados, esfolados, queimados, gaseados, e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido, ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.

Às vezes, por serem de uma raça, outras por serem de uma classe, expiaram todos os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência de haver cometido. Mas também aconteceu e acontece que não foram mortos.

Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer, aniquilando mansamente, delicadamente, por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror, foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha há mais de um século e que por violenta e injusta ofendeu o coração de um pintor chamado Goya, que tinha um coração muito grande, cheio de fúria e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.

Apenas um episódio, um episódio breve, nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis) de ferro e de suor e sangue e algum sémen a caminho do mundo que vos sonho. ~

Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la. É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto não é senão essa alegria que vem de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém está menos vivo ou sofre ou morre para que um só de vós resista um pouco mais à morte que é de todos e virá.

Que tudo isto sabereis serenamente, sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição, e sobretudo sem desapego ou indiferença, ardentemente espero. Tanto sangue, tanta dor, tanta angústia, um dia - mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga - não hão-de ser em vão.


Confesso que muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos de opressão e crueldade, hesito por momentos e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam, quem ressuscita esses milhões, quem restitui não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?

Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes aquele instante que não viveram, aquele objecto que não fruíram, aquele gesto de amor, que fariam «amanhã».

E. por isso, o mesmo mundo que criemos nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa que não é nossa, que nos é cedida para a guardarmos respeitosamente em memória do sangue que nos corre nas veias, da nossa carne que foi outra, do amor que outros não amaram porque lho roubaram.


JORGE DE SENA
Lisboa, 25/6/1959

in Metamorfoses




Jorge (Cândido) de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 — Santa Barbara, Califórnia, 4 de Junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português. Licenciado em engenharia civil, dedicou-se à carreira de escritor, atuando como intervencionista político-pedagógico-cultural.
Tinha um posicionamento político livre e denunciador, que lhe acarretou perseguições políticas durante a ditadura salazarista. Exilou-se no Brasil em 1959 e, posteriormente, nos Estados Unidos da América em 1965, onde veio a falecer.
Foi, possivelmente, um dos maiores intelectuais portugueses do século XX. Tem uma vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia, além de vasta epistolografia com figuras tutelares da história e da literatura portuguesas. Seu espólio conta com uma enorme quantidade de inéditos em permanente fase de preparação e publicação, aos cuidados de sua viúva, a Sra. D. Mécia de Sena.
A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha.
Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra poética, e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago. Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade da Califórnia em Santa Barbara.
Var ainda aqui

2º ciclo dos encontros com poetas do Porto na Fundação Eugénio de Andrade (a partir de 17 de Maio)


A Fundação Eugénio de Andrade, vai dar agora início ao 2º ciclo de “Encontros com Poetas do Porto”.

No primeiro houve sessões com Manuel António Pina, João Luís Barreto Guimarães, Fernando Guimarães, Jorge de Sousa Braga, Fernando Echevarría, Ana Luísa Amaral e Albano Martins.

“Com este novo ciclo, que não será o último,” adianta o comunicado da Fundação, “mais se evidenciará a verdade do que dissemos: que o Porto “não é de modo nenhum a «terra poeticida» execrada por outro poeta portuense, Guilherme Braga”, e que, na modéstia das suas possibilidades, a Fundação Eugénio de Andrade quer contribuir para que não recaia sobre os nossos poetas - que nasceram ou vivem no grande Porto, mas são poetas nacionais - o desprezo que, com raras excepções, lhes votam os media”.

Eis os poetas do Porto deste segundo ciclo:

Rui Lage (17 de Maio),

Rosa Alice Branco (31 de Maio),

Inês Lourenço (7 de Junho),

António Barbedo (14 de Junho),

Isabel de Sá (21 de Junho),

António Rebordão Navarro (28 de Junho),

Daniel Maia-Pinto Rodrigues (5 de Julho),

José Emílio-Nelson (12 de Julho),

Daniel Jonas (19 de Julho)

Helga Moreira (26 de Julho).



Local da Fundação Eugénio de Andrade:
Rua do Passeio Alegre 584
Porto
Telef. 226105991

http://www.fundacaoeugenioandrade.pt/

Cidades Lentas


CIDADES LENTAS
Texto de Inês Mateus Patrício


Retirado daqui

Um homem coloca água corrente num pé de laranjeira. Talvez troque umas palavras com ela. Lentamente dirige-se a uma sombra de nespereira, junto ao alpendre, e senta-se na pedra a ler um livro. Interrompe a leitura e desloca a água daquela laranjeira para outra. Ambas ainda pequenas, duas entre várias que ele regava nessa tarde. Volta à leitura. Todos os gestos tranquilos, num vai e vem sereno. Mas há coisas surpreendentes neste homem. É novo. É licenciado, aliás, é pós-graduado. É competente. Trabalha todos os dias na cidade. Anda sempre de transportes públicos. É absolutamente pontual. Usa a Internet para as comodidades bancárias, pesquisas e contactos. Todos o consideram uma pessoa muito calma. Como se de uma espécie de dom, apenas atribuído a alguns, se tratasse. Mas não é verdade e dizê-lo é importante. Aquela calma implica atenção e cuidado. Implica um empenho, muitas vezes difícil, de desaceleração.

Foram certamente pessoas como este homem que criaram o Slow Movement. Este Movimento tem vindo a crescer desde 1986, altura em que foi criado o movimento Slow Food. Este último, surgiu em Itália e fez-se um movimento internacional de valorização da alimentação tradicional, das formas de cultivo, da escolha de produtos autênticos e da defesa das espécies de cada região. Todos os tempos e actos comunitários relacionados com comida são acarinhados. Criou-se numa evidente reacção ao Fast Food.

Esta palavra Slow (Lento) tem-se estendido a muitas áreas da vida urbana. E a essa palavra juntou-se a palavra Ligação. Ligação às pessoas, aos espaços, à cultura e a uma vida com sentido. Sentido que se pode perder quando, até nos momentos de lazer, nos impomos objectivos, prazos, cadências. Para chegar onde? Até à tarefa seguinte? Como evitar o espanto ao ouvir uma criança na praia que diz “Vou brincar aqui que é para não perder tempo.”? Bem diferente da criança de outro continente que, sentada quieta num degrau, ao ser questionada sobre o que ali fazia respondeu “Estou só a ficar.”

O Slow Movement propõe escolher simplicidade. Nunca negando as tecnologias, considera-as aliadas nesta valsa que se quer lenta, defendendo um desenvolvimento sustentado, respeitando as estações. Os ritmos lentos podem imergir em todas as vertentes da nossa vida. Trabalho Lento, uma vez que está provado que um maior número de horas não reflecte necessariamente maior produtividade. Um trabalho com maior atenção, maior concentração e menor competição. Sobretudo com mais gosto. Viagens Lentas, mudar e viver, tornar-se parte do local que se visita, apreciar as esplanadas, conversar com quem ali vive, procurando o entendimento daquilo que são as pessoas, os modos de viver os espaços. Escolher os locais com que mais nos identificamos e passar lá horas. Conhecer a pé, de bicicleta, de comboio. Participar nas actividades locais, contribuir para o seu desenvolvimento (numa nova expressão: Volunturismo). Livros Lentos, para que não seja mais difícil justificar a nós próprios o tempo em que nos sentamos e ler um bom livro. Reencontrar criatividade, inspiração, entusiasmo, novos modos de pensar. Música Lenta, com atenção à letra, às notas, aos sons singulares dos instrumentos. Escolas Lentas, aprendizagem e conhecimento (ainda assim é um pouco diferente de resultados). O tempo de cada um mostrar os seus talentos, os seus argumentos, o seu crescimento.

E numa escala maior que nós e as nossas opções individuais, serão possíveis Cidades Lentas? Em 1999 criou-se uma nova organização chamada Cittaslow, também em Itália. Esta organização, que tem como símbolo um Caracol, tem-se estendido a outros países como Inglaterra, Itália, Alemanha, Polónia, Noruega e Brasil. Em Portugal as cidades de Lagos, São Brás de Alportel, Silves e Tavira aderiram a este compromisso.

Uma Cidade Lenta deverá ter menos de 50.000 residentes e os manifestos das Cidades Lentas (que diferem em pequenas particularidades de país para país) têm entre 50 e 60 critérios concretos, agrupados em seis categorias que as cidades deverão atingir (sendo que, para serem inicialmente aceites, as cidades têm de cumprir já 50% deles). As seis categorias são: Política ambiental; Infra-estruturas; Tecido urbano; Apoio à produção e artigos locais; Hospitalidade e comunidade; Formação e consciência da condição de Cidade Lenta.

A terceira exigência para que se possa ser eleita como Cidade Lenta é a formação de uma plataforma do movimento Slow Food, uma vez que a boa alimentação e a defesa de produtos em risco de extinção regionais (sejam o queijo, o pão tradicional, ou determinadas receitas) não só foi a origem do movimento Cittaslow, como continua a ser um dos seus pilares fundamentais.

Destas cidades querem-se comunidades com identidade própria, identidade esta que seja reconhecida por quem chega e profundamente sentida porque quem dela faz parte. Continua-se aqui o sentido de Ligação, ligação entre os produtos e os consumidores, entre pessoas e meio ambiente protegido, entre residentes e visitantes (que se devem sentir residentes durante a estadia). As Cidades Lentas querem-se ajustadas à escala humana, com os centros históricos preservados e os edifícios novos harmonizados. Devem ser criados lugares de vivência comum da cidade, espaços de lazer e de cultura. A cidade tem de ser para todos e, para isso, as acessibilidades têm de prever a presença de todos por igual. O comércio tradicional, o atendimento personalizado e confiado têm necessariamente de ser encorajados. Devem ter menos trânsito e menos barulho. As possibilidades são infinitas e sempre inacabadas: espaços verdes, cafés, teatros, cinemas, albergarias, mercados com produtos locais, zonas exclusivamente pedonais, festivais de promoção da região, lojas de comércio justo, a promoção dos bairros mais antigos. Sempre presente é a honesta preocupação com as próximas gerações.

O processo de candidatura deve ser liderado pelas autarquias, mas todos os habitantes da cidade são chamados a implicar-se, num diálogo que se quer participado, inteligente, solidário e criativo. Após vencer a candidatura, uma comissão externa à cidade verificará periodicamente a manutenção da designação e o atingir de novos critérios e soluções como Cidade Lenta.

As cidades com mais de 50.000 habitantes, não podendo candidatar-se, não devem inibir-se de adoptar os princípios e objectivos das Cidades Lentas, ganhando assim reconhecimento e, mais importante, a qualidade de vida dos seus cidadãos.

Goolwa na Austrália, Abbiategrasso na Itália, Mungia em Espanha, Levanger na Noruega, Enns na Áustria ou Ludlow em Inglaterra são algumas das Cidades Lentas que pode conhecer. Ludlow foi a primeira Cidade Lenta do Reino Unido, assim reconhecida em 2003. Ludlow é uma cidade no sul da região de Shropshire, perto do País de Gales, com cerca de 10.000 habitantes. Situa-se numa colina junto a uma curva do rio Teme. Entrar nesta cidade é ser recebido como residente, como parte integrante. Se percorrer o centro de Ludlow a pé pode encontrar mais de 500 edifícios referenciados. Nesses edifícios antigos moram pessoas e mora comércio, pode entrar e apreciá-los assim vividos. O centro é dinâmico, encontra padarias com fabrico tradicional, talhos com carnes criadas na região, restaurantes recomendados internacionalmente, lojas de artesanato local, lojas de design, livrarias e bancos. Muitas destas lojas têm-se mantido, por muitas gerações, nas mesmas famílias. O atendimento personalizado e conhecedor dos produtos tem sido preservado. Junto ao castelo podemos encontrar um impressionante mercado de produtos cultivados e criados à volta da cidade. Existe também um centro de artes que promove cinema, teatro, música e conferências. Todas as organizações são convidadas a envolver-se nas decisões que envolvem a cidade.

Em 2004 foi criado um Eco-Parque periférico. Todos os edifícios de negócios ali construídos têm de cumprir soluções ecológicas, nomeadamente quanto à emissão de gazes com efeito de estufa (tem de ser 50% inferior à dos edifícios comuns). Pretende-se aplicar uma arquitectura sustentável. Um grande estacionamento, servido por um autocarro, cria uma alternativa ao carro próprio no acesso à cidade.

Em Ludlow, decorrem todos os anos pelo menos quatro festivais: um de carros antigos; outro de artes com peças de Shakespeare, concertos, debates e animação de rua; um festival de gastronomia e um festival medieval. Todos estes enredos, e muitos outros, se podem descobrir em cidades lentas. Lugares bons para viver e para visitar... lentamente.



Para mais informações:

http://en.wikipedia.org/wiki/Cittaslow

http://www.slowmovement.com/slow_cities.php

http://www.cittaslow.org.uk/index.php?Pid1=1&PLv=1

Projecção de videos em Castelo de Paiva sobre a região, o rio e as gentes (dia 17 às 21h30)


A Binaural e a Associação Cultural de Nodar apresentam uma selecção de vídeos realizados entre 2006 e 2008 no Centro de Residências Artísticas de Nodar.

Estes vídeos resultam de projectos artísticos desenvolvidos em articulação com o contexto geográfico e/ou sócio-cultural de Nodar, uma pequena aldeia rural situada no vale do Rio Paiva, entre as serras da Gralheira e do Montemuro (distrito de Viseu, Concelho de S. Pedro do Sul).

Desde Março de 2006 que residiram temporariamente em Nodar mais de 40 artistas contemporâneos, portugueses e estrangeiros, os quais desenvolveram projectos artísticos (nas áreas das artes sonoras, visuais e performance) em ligação com as comunidades locais.

Memória colectiva, lendas e mitos, identidade, género e idade, topografia, toponímia, música, património sonoro, paisagem, vegetação, água e fogo, novas e antigas dinâmicas de consumo, artefactos e utensílios, vida e morte, língua, agricultura e pastorícia, foram alguns das realidades que serviram de base para a concepção e realização dos projectos artísticos.

Concertos, workshops, exposições, palestras e projecções de vídeo realizaram-se em diversas aldeias e cidades da região com interesse e participação crescentes.

Filmes a serem projectados:

Contos do Paiva. De Martin Clarke (Reino Unido) e Alicja Rogalska (Polónia). 2007

Diálogos Tácteis. De Xesús Valle (Galiza, Espanha). 2007

Flowlines. De John Grzinich (EUA/Estónia). 2008

Split Pea Soup. De Suzanne Caines (Canadá). 2007

Nodar Fora do Tempo. De Colectivo Fora do Tempo (León, Espanha). 2006


http://www.sosriopaiva.blogspot.com/
http://www.binauralmedia.org/



Junta a sua assinatura

ao grito de alerta pelo Rio Paiva

Assina a petição em defesa do Rio Paiva:


www.petitiononline.com/RioPaiva/petition.html

Assembleia MayDay (esta quarta-feira, 14 de Maio às 21h30)


Depois da parada chega a hora de fazer o precioso balanço.
A tua presença é importante!
Assembleia MayDay!!
Quarta :: 14 de Maio :: 21:30h


Local:
Cooperativa Cultural Crew Hassan
Rua das Portas de Santo Antão, 159 (perto Coliseu)


Divulga já pelos teus contactos!!
Não faltes!
Até Quarta!
Precári@s nos querem!
Rebeldes nos terão!


http://maydaylisboa.blogspot.com/




Vídeos do MayDay de 2008 em Lisboa


O GAIA (grupo de acção e intervenção ambiental) dinamiza horta popular da Graça e Mouraria


Texto publicado hoje no Diário de Notícias


Rapazes do bairro cultivam hortas para os vizinhos


Arlete Sousa hesitou durante uns minutos. Gostava de espreitar as hortas que os rapazes do bairro cultivaram ao pé da sua casa, em Lisboa, mas também não queria chegar atrasada à procissão da Nossa Senhora Saúde, no Martim Moniz. "Quando regressar passo por aqui", prometeu ontem a pensionista de 73 anos, resolvendo assim o seu dilema.

Os "rapazes do bairro" são sete jovens do Grupo Desportivo da Mouraria e do Grupo de Acção e Intervenção Ambiental (GAIA) que resolveram ocupar um terreno baldio da freguesia da Graça, com tomates, morangos, beringelas ou abóboras. "O objectivo passa por fazer uma horta para os moradores da zona que quiserem cultivar os seus próprios alimentos", explica Marcos Pais, um dos responsáveis do projecto.

A ideia é simples mas deu algum trabalho. No terreno, entre a rua Damasceno Monteiro e a calçada do Monte, começam agora a surgir as primeiras couves galegas, aipos, espinafres, ou beterrabas. Antes disso, porém, foi preciso obter autorização da câmara de Lisboa, retirar o lixo, cortar o capim, arrancar as ervas e sulcar a terra. Tarefas que começaram em Outubro do ano passado e ainda não estão concluídas.

Houve até plantas e árvores que estavam condenadas à morte mas que na horta popular da Graça tiveram uma segunda oportunidade. "É o caso dos pessegueiros e das videiras que estavam em Benfica e com a construção da CRIL iam ser destruídas", conta Marcos Pais. Mas os membros do GAIA chegaram a tempo de travar as retroescavadoras e salvar o mini-pomar.

O projecto está encaminhado, mas falta ainda uma parte essencial para ser bem sucedido - a adesão dos moradores. "As pessoas têm tido algum receio de se envolverem nesta iniciativa e estão à espera que a horta entre numa fase mais avançada para começarem a participar", desabafa Marcos Pais.

Por enquanto, apenas meia dúzia de residentes dos bairros da Graça e da Mouraria têm na horta popular um talhão onde cultivam as suas leguminosas. Há, no entanto, muitos mais moradores com vontade de dar os seus palpites: "Muita gente vai passando por aqui e dando as suas dicas." António Sanches, de 71 anos, é um deles. Quase todos os dias, o relojoeiro da Graça inspecciona um a um os legumes e os frutos da horta popular: "As alfaces precisam de mais água porque estão a perder a cor", avisa o morador da rua Josefa de Óbidos, que "percebe destas coisas" porque tem uma "grande horta" em Moimenta da Beira, onde costuma passar os fins-de-semana.

António Sanches é, aliás, um dos conselheiros de Sofia Figueredo, que todas as segundas-feiras sai de casa, na Mouraria, para levar o filho ver as abóboras que semearam em Fevereiro na horta popular da Graça: "Eu e o meu filho estamos a aprender a cultivar e ainda fazemos alguns disparates", confessa a moradora de 31 anos, que vai ter de transplantar as suas abóboras porque semeou-as "demasiado juntas e agora não têm espaço para crescer".



Consultar sobre a agricultura urbana:

http://en.wikipedia.org/wiki/Urban_agriculture

http://es.wikipedia.org/wiki/Agricultura_urbana

http://www.ruaf.org/

http://www.cityfarmer.org/uajustification.html

http://www.growingpower.org/index.htm

http://www.thefoodproject.org/default.asp

http://rooftopgardens.ca/en

www.newfarm.org/features/1104/urban_farm/

No estado em que se encontra o país …( Eça de Queiroz)


“No estado em que se encontra o país, os homens inteligentes que têm em si a consciência da revolução – não devem instruí-lo, nem doutriná-lo, nem discutir com ele – devem farpeá-lo”.

Citação retirada de «As Farpas», conforme os objectivos definidos por Eça de Queiroz para essas crónicas

Festival Portugal a Rufar (Festival internacional de percussão no Seixal durante o mês de Maio)


http://portugalarufar.tocarufar.com/


UM MÊS, MUITOS MUNDOS EM PALCO, UMA SÓ VOZ: A PERCUSSÃO


Em 2008, este evento decorrerá entre o dia 1 de Maio, dia de abertura e encerrará no dia 1 de Junho, dia Mundial da Criança.

Esta quarta edição do PORTUGAL A RUFAR insiste na promoção dos instrumentos e dos estilos desta linhagem musical e na divulgação de novas formações artisticas em seu redor.

Durante cinco fins de semana, num total de 40 espectáculos envolvendo mais de 60 grupos, actuarão dezenas de artistas, entre os quais músicos, bailarinos, actores e cantores, provenientes de África, América do Sul, Ásia e Europa, respondendo ao bramir dos tambores da Associação Tocá Rufar, principal promotora do festival.

A animação será constante ao longo de todo o mês com espectáculos, oficinas de percussão, dança e teatro, feira de artesanato e exposição permanente sobre a percussão no mundo.

O alvoroço de 1400 tambores, em desfile matinal pelas ruas do Seixal, encerra o festival no Domingo, dia 1 de Junho. É o DIA DO BOMBO, que finaliza com as actuações de todos os grupos envolvidos no desfile.

Como é usual será dada particular atenção às necessidades das pessoas portadoras de deficiência e população sénior, tal como o apoio às crianças e respectivas familias.

Tudo isto, num ambiente agradável, cívico e fraterno.

Programa

Quinta, 01
21h00: APRESENTAÇÃO DA PROGRAMAÇÃO


Sexta, 02
22h00: O Ó QUE SOM TEM


Sábado, 03
22h00: ORQUESTRA PERCUSSÃO TOCÁ RUFAR


Domingo, 04
10h30: ARTESANATO, WORKSHOPS, ANIMAÇÕES


Sexta, 09
22h00: WOK RITMO AVASSALADOR


Sábado, 10
21h00: DIDGERIDOO
22h00: STOYAN YANKOULOV E ELITSA TODOROVA
23h30: OLIVETREE DANCE


Domingo, 11
10h30: ARTESANATO, WORKSHOPS, ANIMAÇÕES


Sexta, 16
21h00: HUGO MENEZES
22h00: TUCANAS


Sábado, 17
22h00: DJAMBONDA


Domingo, 18
10h30: ARTESANATO, WORKSHOPS, ANIMAÇÕES


Sexta, 23
21h00: BALTAZAR MOLINA
22h00: NAÇÃO VIRA-LATA


Sábado, 24
20h00: JANTAR / NOITE BATUKO
22h00: BOMBA DÀFRICA
23h00:


Domingo, 25
10h30: ARTESANATO, WORKSHOPS, ANIMAÇÕES


Sexta, 30
22h00: NANÁ VASCONCELOS


Sábado, 31
21h00: NELSON SOBRAL
22h00: WOLFGANG HAFFNER

UMAR-te assim perdidamente (Ciclo de cinema na Fac. de Psicologia e Ciências da Educação do Porto entre 12 a 18 de Maio)

Entre os dias 12 e 18 de Maio, realiza-se na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto um ciclo de cinema intitulado "UMAR-te assim perdidamente", organizado pela UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta, como preparativo para o Congresso Feminista. Cada sessão contará com convidados que animarão o debate a realizar a seguir aos filmes.
Clicar por cima da imagem para ler em detalhe