31.8.07

A lavagem ao cérebro em liberdade ( por N. Chomsky)

Transcrevemos este texto que fomos buscar a um dos mais interessantes blogues que conhecemos:


Trata-se de um excerto de um artigo de Noam Chomsky com o título «Ainda Mais Eficaz que as Ditaduras, a Lavagem dos Cérebros em Liberdade» publicado na número de Agosto do Monde Diplomatique, edição portuguesa, Agosto de 2007;




A lavagem ao cérebro em Liberdade - «AINDA MAIS EFICAZ QUE AS DITADURAS

[…] Quando certos jornalistas são postos em causa, de facto respondem imediatamente: "Ninguém me pressionou, eu escrevo o que quero". É verdade. Só que, se eles tomassem posições contrárias à norma dominante, deixariam de escrever os seus editoriais. Claro que esta regra não é absoluta; eu próprio publico às vezes artigos na imprensa americana, os Estados Unidos não são um país totalitário. Mas qualquer pessoa que não satisfaça determinadas exigências mínimas não tem nenhuma possibilidade de aceder à condição de comentador estabelecido.

É aliás umas das grandes diferenças entre o sistema de propaganda dum Estado totalitário e a forma de proceder em sociedades democráticas. Exagerando um pouco, nos países totalitários o Estado decide sobre a linha a seguir, devendo toda a gente conformar-se com essa linha. As sociedades democráticas operam de outra maneira. A "linha" nunca é enunciada como tal, é subentendida. De certa forma, procede-se assim a uma "lavagem ao cérebro em liberdade". Até mesmo os debates "empolgados" que há nos grandes media se situam no quadro dos parâmetros implícitos consentidos, os quais têm nas suas margens muitos pontos de vista contrários.

O sistema de controlo nas sociedades democráticas é muito eficaz; instila a linha directriz como o ar que se respira. Não nos apercebemos disso, chegando por vezes a imaginar que estamos perante um debate particularmente vigoroso. No fundo, este sistema é infinitamente mais eficaz do que os sistemas totalitários.

Vejamos, por exemplo, o caso da Alemanha no início da década de 1930. Houve quem esquecesse que a Alemanha era então o país mais avançado da Europa, na vanguarda no respeitante às artes, às ciências, às ciências, às técnicas, à literatura, à filosofia. Mas depois, em muito pouco tempo, deu-se um retrocesso completo, e a Alemanha tornou-se o Estado mais assassino e mais bárbaro da história humana.

Tudo isto se realizou instilando medo: medo dos bolcheviques, dos judeus, dos americanos, dos ciganos, em suma: de todos quantos, segundo os nazis, ameaçavam o âmago da civilização europeia, ou seja, "os herdeiros directos da civilização grega". Pelo menos, foi isso que o filósofo Martin Heidegger escreveu em 1935. Ora a maior parte dos media alemães que bombardearam a população com esse género de mensagens adoptou as técnicas de marketing criadas por… publicitários americanos.

Não esqueçamos como uma ideologia se impõe sempre. Para dominar, não basta a violência – impõe-se uma justificação de outra natureza. Quando uma pessoa exerce o poder sobre outra – quer seja um ditador, um colono, um burocrata, um marido ou um patrão –, precisa sempre duma ideologia justificadora, e é sempre a mesma: essa dominação é exercida "para bem" do dominado. Por outras palavras, o poder apresenta-se sempre altruísta, desinteressado, generoso.

Na década de 1930, as regras da propaganda nazi consistiam, por exemplo, em escolher palavras simples, repeti-las sem descanso, associando-as a emoções, sentimentos, temores. Quando Hitler invadiu os sudetas [em 1938], fê-lo invocando os mais nobres e caritativos propósitos: a necessidade duma "intervenção humanitária" para impedir a "limpeza étnica" dos germanófonos e para tornar possível que todos vivessem sob a "asa protectora" da Alemanha, isto é, com o apoio da potência mundial mais avançada nas artes e na cultura.

Em matéria de propaganda, se em certo sentido nada mudou desde os tempos da antiga Atenas, a verdade é que houve bastantes aperfeiçoamentos. Os instrumentos da propaganda foram-se tornando muito mais refinados, em particular e paradoxalmente nos países mais livres do mundo: o Reino Unido e os Estados Unidos. Foi nestes países, e não noutros, que surgiu na década de 1920 a indústria moderna das relações públicas, isto é: o fabrico da opinião, ou propaganda.

Com efeito, no respeitante aos direitos democráticos (voto das mulheres, liberdade de expressão, etc.) estes dois países tinham progredido tanto que a aspiração à liberdade já não podia continuar a ser contida apenas pela violência estatal. Por esse motivo, os seus dirigentes viraram-se para as técnicas da "fábrica do consentimento". A indústria das relações públicas produz, no sentido exacto da palavra, consentimento, aceitação, submissão. Controla as ideias, os pensamentos, as mentes. Por comparação com o totalitarismo, é um grande progresso: é muito mais agradável uma pessoa suportar um anúncio publicitário do que ver-se numa sala de torturas. […]»

[Noam Chomsky, Ainda Mais Eficaz que as Ditaduras, a Lavagem dos Cérebros em Liberdade: Lisboa, Monde Diplomatique, edição portuguesa, Agosto de 2007;

Festival de Teatro da Guarda durante o mês de Setembro





Programa completo do Festival:
www.tmg.com.pt/festival_de_teatro_da_guarda.htm


No Sábado, dia 1 de Setembro, tem início no Teatro Municipal da Guarda a terceira edição do Acto Seguinte – Festival de Teatro da Guarda.

“Minetti”, apresentada por Camaleón e Ernesto Calvo Producciones [Espanha] é a peça que dá início ao festival, sobe ao palco do Pequeno Auditório às 21.30 horas.

Uma peça baseada num autêntico e histórico actor alemão, Bernhard Minetti (1905-1998), que em 1976 inspirou o dramaturgo Thomas Bernhard para este quase monólogo de musicalidade infernal que tem como protagonista o actor uruguaio radicado em Espanha, Juan Carlos Moretti, aqui dirigido por Ernesto Calvo.

Tanto o actor, Juan Carlos Moretti, como o encenador, Ernesto Calvo, tiveram como objectivo aproximarem-se o mais possível ao texto original. Os ensaios começaram desenvolvendo hábitos e método, estudando o texto, à procura de ritmos e de sonoridades, tentando decifrar pequenos enigmas ou grandes conflitos com os quais conta sempre qualquer autor teatral, e que no caso de Bernhard são mais usuais que em outros autores. «Trabalhar um texto deste dramaturgo é sempre construír um edifício sobre um que já está edificado. A figura do protagonista foi-se degradando ao mesmo tempo que as personagens e cenografia desapareciam. Foram-se entranhando no trabalho, fundindo-se na leitura que o Actor e o Encenador têm habitualmente nos primeiros ensaios, e as personagens transformaram-se assim em fantasmas que deambulam pela geografia da mente de Minetti. A doença, a perda de memória, a morte, o cansaço, a demência, a velhice, a juventude, o amor, o nazismo, a intolerância, etc., etc., todos eram os fantasmas da sua vida. A estrutura da encenação tomou corpo. Não eram necessários actores que interpretassem as personagens, nem cenografia que ilustrasse os sonhos impossíveis. Só existem Actor e Encenador, que são o Protagonista e o Antagonista, os elementos imprescindíveis para o Teatro.» – refere Ernesto Calvo a propósito da encenação desta obra.

Iberfolk - festival de cultura tradicional ( Sortelha - 7,8,9 Setembro)


IBERFOLK
7,8,9 Setembro 2007
Sortelha, Sabugal

Programa


Sexta, 07 Setembro
19H00 - Observação solar *
22H00 - Pé Na Terra
23H30 - Projecção do documentário "Arritmia"
23H30 - Hora Do Conto I - Marco Luna
24H00 - Ventos Da Líria
A partir das 15H00 - Escalada no castelo
Após as 22H00 - Observação astronómica


Sábado, 08 Setembro
16H00 - Workshop de Danças Tradicionais I
16H00 - Caminhada "Á descoberta de moinhos de água"
17H00 - Workshop de Adufe
17H30 - Workshop de Danças Tradicionais II
18H00 - Teatro de Marionetas "Tobias e as lendas" - Macapi
19H00 - Workshop "Mergulhar no Corpo" - Sandra João
19H00 - Workshop "Corpo em movimento" -
A partir das 15H00 - Escalada no castelo
21H00 - Adufeiras de Paúl, com participantes de Workshop de Adufe
22H00 - No Mazurka Band + Workshop
23H30 - Projecção do documentário "11 burros caem num estomago vazio"
23H30 - Hora Do Conto III - Marco Luna
24H00 - Diabo a sete


Domingo, 09 Setembro
15H30 - Workshop de Danças Tradicionais III
15H00 - Caminhada "Serra de Malcata"
A partir das 15H00 - Escalada no castelo
18H30 - Mosca Tosca
21H30 - Hora Do Conto III - Marco Luna
22H00 - Tor

O cinema em Trás-Os-Montes ( ciclo de filmes em Vimioso de 30 de Agosto a 2 de Set.)

Consultar:


Que cinema se fez em Trás-os-Montes e que Trás-os-Montes se fez nesse cinema?

Estes são os dois termos de uma mesma questão e as duas faces de uma mesma imagem, sem frente nem avesso. Responder à pergunta é ler a imagem cinematográfica à transparência da sua construção e à contra-luz do seu devir histórico, à vista de um confronto entre duas representações: uma que se mostra, a outra que se vê. É nessa descoincidência radical, em que se formam e desenvolvem todas as imagens, que é possível perceber a realidade.
Sendo muitos os filmes que têm por objecto ou pano de fundo a região transmontana e acreditando que a restituição dessas imagens, na maioria das vezes tão próximas quanto desconhecidas, ao contexto onde foram realizadas pode contribuir para uma redefinição dos lugares e das representações, A Reposição é um seminário aberto que pretende dar a ver e a discutir, in loco, uma selecção dos diferentes olhares que o cinema português dirigiu a Trás-os-Montes.

Em resposta a uma grande diversidade de propósitos (éticos, estéticos, políticos, sociológicos) e de pontos de vista (ficcionais, documentais ou combinado os dois registos), a multiplicidade de abordagens cinematográficas de Trás-os-Montes unifica-se em torno de uma gama pouco discrepante de temáticas e de concepções prévias. Reiteradas com frequência pelos cineastas, que encontraram na região e nos seus traços específicos elementos privilegiados para falar do país, ideias como o isolamento, o afastamento relativamente à capital e aos centros urbanos do litoral, associadas ao dramatismo da paisagem, à negação de todos os indícios da modernidade e à prevalência de modelos de organização social e de tradições ancestrais, contribuíram para forjar uma imagem pitoresca e pouco realista da região transmontana, convertida em lugar mítico, fora do espaço, do tempo e da história, pronto a acolher todo o tipo de projecções. Deste modo, enquanto alguns cineastas encontram em Trás-os-Montes o cenário ideal para, de modo fantasioso, filmar lendas e contos tradicionais (convertidos, na maioria das vezes, em comentário político), outros, desenvolvendo aproximações pretensamente mais objectivas, concordantes com os princípios teóricos da “antropologia visual”, vêem na prevalência de práticas comunitárias nalgumas aldeias, o molde e a justificação de um “comunismo natural”. Servindo as mais variadas perspectivas e discursos, identificada como território “virgem” e “original” – figura acabada de uma matriz cultural –, a região de Trás-os-Montes, torna-se, a um tempo, palco de algumas das mais radicais experiências cinematográficas do Novo Cinema Português e contraponto fundamental para repensar as assimetrias económicas entre o Norte e o Sul, a falência da reforma agrária e a crescente desertificação do interior do país.

Por isso, sendo certo que a paisagem natural e humana de Trás-os-Montes serve de pano de fundo a algumas das obras fundamentais da história do cinema português, A Reposição pretende proporcionar uma revisão crítica do cinema “transmontano” através do confronto de Trás-os-Montes com a sua imagem cinematográfica. Trata-se, pois, de reconduzir as imagens à sua origem e de levar o cinema onde este raramente chega.

A mostra terá lugar em plena região transmontana, na Casa da Cultura de Vimioso (Distrito de Bragança), de 30 de Agosto a 2 de Setembro.

Pela diversidade de abordagens cinematográficas de Trás-os-Montes, pelo confronto desses filmes com os locais onde foram realizados e contando com a presença de alguns dos realizadores, esperamos que A Reposição possa promover um espaço de abertura, de descoberta, de troca e de debate.

Por altura da mostra será ainda editado um livro com textos de reflexão sobre o tema e informação relativa aos filmes programados.

A entrada é gratuita.

O seminário está aberto a todas as participações.

Alojamento gratuito
A Câmara Municipal de Vimioso acolhe todos os participantes disponibilizando-lhes, para “acampar” gratuitamente, as instalações do recém-inaugurado Pavilhão Multiusos (espaço amplo com balneários e água quente).



Para outras informações:

António Preto
965775312
antónio.m.preto@gmail.com