17.5.07

O velho ritual da praxe provocou em Coimbra mais um ferido e... muitos humilhados e ofendidos

Os estudantes mais velhos decidiram rapar os pêlos púbicos do caloiro num "julgamento" durante a Queima das Fitas a um estudante da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra que ficou ferido nos órgãos genitais, na sequência de um ritual da praxe académica designado como "o julgamento". Alegando ter sido vítima de uma agressão, o caloiro de Medicina apresentou queixa no Conselho de Veteranos (o órgão que regula a praxe na Academia de Coimbra) contra os alunos mais velhos, mas a queixa à polícia não está posta de lado.
O incidente terá ocorrido há cerca de uma semana, durante a Queima das Fitas de Coimbra, quando o aluno foi submetido, juntamente com outros colegas de Medicina, a um "julgamento".
Neste ritual, os caloiros são confrontados pelos estudantes mais velhos com "acusações" normalmente relacionadas com a sua conduta ou postura durante a praxe e submetidos às mais variadas penas. Neste caso, os estudantes mais velhos decidiram rapar os pêlos púbicos do caloiro, provocando um ferimento nos órgãos genitais que levou o aluno a dirigir-se, por precaução, ao hospital.
João Luís Jesus, do Conselho de Veteranos da Academia de Coimbra, tem estado em contacto com o aluno e não exclui a possibilidade de recurso às autoridades policiais. "Vamos ouvir e recolher depoimentos, para perceber como tudo ocorreu. Se estivermos perante uma agressão, aí aconselharemos o aluno a fazer queixa na polícia; mas também pode ter sido um acidente", admite.
Hoje em dia, o "julgamento" é pouco frequente na Academia, embora, segundo João Luís Jesus, "continue a ser levado a cabo pontualmente".
De acordo com código da praxe da academia, o "julgamento" tem que ocorrer obrigatoriamente numa República ou noutra casa de praxe autorizada e segue alguns preceitos que tornam o ritual "algo assustador", refere o veterano. "A sala onde decorre o julgamento tem que estar iluminada apenas com velas e apenas se vêem os olhos dos estudantes que fazem o ritual. Tem que haver camaradagem", declara, lembrando alguns casos "menos felizes" no passado. "Tivemos um caso em que vários alunos eram "condenados" em julgamento a passar uma hora dentro de um caixão. É preciso bom senso", apela.
O primeiro caso conhecido relacionado com praxes a chegar à justiça foi o de Ana Francisco. Em Fevereiro de 2003, a então caloira da Escola Agrária de Santarém denunciou uma sucessão de actos que considerou violentos.
O Tribunal de Santarém começou por pronunciar seis alunos. A advogada de defesa da jovem, Manuela Miranda, recorreu. E, em Março, diz a causídica, o Tribunal da Relação de Évora acrescentou mais um jovem à lista. Os sete arguidos estão acusados de coacção e ofensa à integridade física qualificada. O julgamento não está marcado. Ana estuda actualmente noutra escola.


Fonte: jornal Público




O MATA ( Movimento anti-tradição académica) já tornou público um comunicado que fui buscar ao saboroso blogue O Bitoque:


Começou por ser mais um caso público de praxe violenta. No dia seguinte passou a dois. No primeiro caso, um jovem estudante viu-se "imobilizado por colegas mais velhos e alguns começaram a rapar-lhe os pêlos púbicos com uma lâmina de barbear" do que "resultou o rompimento de parte do escroto do caloiro", segundo conta um jornal diário. O outro "para além de unhas negras, resultantes de apanhar com uma colher de pau" sofreu cortes no couro cabeludo com uma tesoura enquanto lhe cortavam o cabelo, segundo outro jornal diário regional. Um apresentou queixa ao Conselho de Veteranos (CV), o outro, junto das autoridades policiais.
José Luís Jesus, dotado do "nobre título" dux veteranorum da Universidade de Coimbra, garante-nos que os agressores "estão devidamente identificados"; que ainda "esta semana serão feitas todas as averiguações"; e que caso tenha havido abusos "o CV vai até às últimas consequências". Além de se fazer passar por uma autoridade para tratar o que as leis normais, iguais para toda a gente, deveriam resolver, este estudante acrescentou ainda, em declarações mais recentes: "já sabemos que é tudo mentira! Se o estudante tem um rompimento no escroto, foi porque fez outra coisa qualquer!" Parece incrível, mas é verdade: as "leis" da praxe são feitas para proteger e fomentar a barbaridade e não precisam de grandes averiguações para "julgar" e tomar as suas "decisões".
Surge então uma pergunta: Que entidade é esta, o "CV", e as pessoas que o constituem, os "duces", que se auto reveste do poder de identificar, averiguar, julgar e condenar situações nas quais não esteve directamente envolvida? O Estado reconhece-lhe esse direito?
É inaceitável que se pense que as pessoas que praticam as praxes podem ser as mesmas a fiscalizar os actos por si praticados, e ainda para mais consideradas idóneas. Como se pertencessem a uma instituição à parte, numa proposta de mundo à parte – a Universidade. É exactamente essa proposta de Universidade-fortaleza, fechada ao mundo, que recusamos.
A sociedade vai perdendo a ilusão de que as praxes não passam de um conjunto de brincadeiras menores e que até é normal que tenham instituições próprias que a regulem. Mas se por algum motivo não tivessem acontecido cortes no escroto ou no couro cabeludo, nódoas negras e hematomas, estes casos teriam sido notícia? O CV consideraria aquela praxe admissível?
O Conselho de Veteranos talvez responda sim a esta pergunta alegando, em defesa dos agressores, que o aluno aceitou ser praxado. E novas questões se colocam: em que condições aceitou ser praxado? Foi de livre e espontânea vontade que avançou para a praxe, com o conhecimento prévio do que lhe poderia acontecer? Não foi persuadido sob nenhuma forma, física ou psicológica (e o motivo da integração adapta-se perfeitamente a este tipo de persuasão) para se submeter à vontade dos praxantes?
Infelizmente, sabemos que a coragem de não aceitar e denunciar estas violências é quase sempre "premiada" com o abandono e a hostilização das vítimas e a cumplicidade com os agressores: o passado recente mostra-nos que os responsáveis pelas escolas e pelo ministério são os primeiros a contribuir para o clima do medo e da impunidade.
O Movimento Anti "Tradição Académica" não aceita esses poderes obscuros e sem qualquer legitimidade e considera que estes casos não são acontecimentos isolados mas que acontecem devido à própria natureza da praxe. Condenamos as violências inerentes às praxes quer se tornem em casos públicos ou não. Apelamos aos estudantes que rejeitem qualquer forma de praxe, bem como todas as imposições e os poderes absurdos de estudantes sobre estudantes disfarçadas de brincadeiras e "tradição". A lei da praxe não vale nada, nem pode sobrepor-se às leis do país e ao convívio entre estudantes sem imposições, sem chefes e sem violências.
Por último, mantemos a expectativa de que o Sr. Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Prof. Mariano Gago, mantenha o perfil de indignação que já demonstrou relativamente a situações semelhantes, esperando ainda pelo momento em que verdadeiramente coloque na agenda a reflexão e acção sobre este tema. Para ele, como para toda a comunidade escolar e sociedade em geral, desistir e abreviar responsabilidades seria uma atitude inaceitável. E speremos que, à semelhança do que aconteceu noutros casos como o de Ana Sofia Damião, não seja a própria instituição escolar a querer ocultar o que se passou para manter o bom nome da casa

O dia das Letras Galegas (17 de maio)

O dia 17 de Maio é o Dia das Letras Galegas. Um dia que serve para chamar a atenção para um das línguas periférias do Estado espanhol, a língua falada na Galiza e que partilha com o português a mesma origem, características e história. Um dia que visa também dar a conhecer a rica e imensa cultura galega, assim como as suas principais figuras: cada ano homenageia-se uma figura das letras galegas, escolha que cabe à Real Academia Galega, fundada em 1906.

Recorde-se que o fim do século XIX e o início do século XX assiste-se a.um processo de reafirmação da identidade galega, conhecido pela designação de «Rexurdimento». Após séculos de apagamento e de inanição letárgica, que ficaram conhecidos pela expressão «séculos escuros», a Galiza vive nesse período um movimento de redescoberta de uma matriz identitária. O renascimento galego resulta, em boa medida, das ondas de choque do Romantismo, no emergir de tendências historiográficas que visavam a reelaboração de matrizes culturais nacionais.
Em 1865, Manuel Murguía publicava o primeiro volume da sua História da Galiza. Também na Literatura, é na segunda metade do século XIX que encontramos três dos expoentes máximos da poesia e prosa escritas em galego: Rosalía de Castro, Curros Enríquez e Eduardo Pondal. Como acontece muitas vezes em tempos de indefinição político-cultural, também nos galegos aconteceu procurar na História os elementos identitários que conformavam uma especificidade linguístico-cultural. A este respeito, a poesia trovadoresca galego-portuguesa, que se concentra nos séculos XII, XIII e XIV, garante, por si só, um húmus sustentador de uma reapropriação da dignidade perdida da fala e escrita galegas. É verdade que, em razão da vitória franquista na Guerra Civil espanhola, o século XX não favoreceu a consolidação daquela tendência. Mas o renascimento galego era já um movimento imparável. Até certo ponto, a criação da Real Academia Galega é devedora daquele movimento de afirmação da cultura galega.

O ano do arranque do «Dia das Letras Galegas» e o dia escolhido para a sua festividade revelam uma intencionalidade plena de significado. O evento teve o seu ano inaugural em 1963, isto é, 100 anos depois da publicação da obra «Cantares Galegos», de Rosalía de Castro; e o dia escolhido, 17 de Maio, foi o dia em que o livro veio a lume. Como não podia deixar de ser, o nome de Rosalía de Castro impôs-se desde logo como centro absoluto de todas as comemorações, naquele 17 de Maio de 1963.

De maneira que o «Dia das Letras Galegas» conta já com 44 edições. Este ano, a escolha recaiu sobre Maria Mariño Carou (1907-1967). De origens humildes, Maria Mariño cedo abandonou a escola para trabalhar. Figura discreta e pouco ou nada dada à frequência de círculos literários-artísticos, a poetisa de «Palabra no tempo» ocupa na história literária galega do pós-guerra um lugar excêntrico. Não sendo alheia ao seu despertar para a escrita a amizade que cultivou com Uxío Novoneyra (1930-1999), a produção literária de Maria Mariño reduz-se à publicação de dois livros de poemas. «Palabra no tempo», de 1963 – o único publicado em vida da autora -, e «Verba que comeza», poemário póstumo que viria a lume em 1992. A publicação de «Palabra no tempo» resulta do estímulo e da promoção concedidas por Uxío Novoneyra, o poeta de «Poemas caligráficos», de 1979.
Nos seus versos, Maria Mariño condensa a tradição poética popular, na esteira de uma Rosalía de Castro, e um paisagismo em que as montanhas de Courel, perto de Lugo – onde se fixou a partir de 1947 -, são metamorfoseadas pela intuição poética. Por outro lado, encontramos na poesia de Maria Mariño uma reflexão sobra a íntima radicalidade da morte, a que não é com certeza estranha o facto de a poetisa se debater, pelos anos sessenta, com uma luta desigual com a leucemia. Morreria em 1967, com 60 anos de idade.
O estilo livre de Maria Mariño, a agramaticalidade temperada com um forte sentido lírico, logo despertaram a atenção do mundo literário galego. Para além do já referido Uxío Novoneyra, que lhe haveria de dedicar o belo poema «Elexía previa a Maria Mariño», também outros poetas e críticos haveriam de dedicar à sua poesia a atenção que ela merecia. Destacamos as análises feitas por Ramón Otero Pedrayo (1888-1976) – autor, aliás, do prólogo de «Palabra no tempo» –, e Xosé Luís Méndez Ferrín (1938), que lhe dedicará dois artigos na publicação «La Noche».
O «Dia das Letras Galegas» é motivo de celebração e de reconhecimento de figuras que, pela sua obra, souberam prestigiar a língua e cultura galegas. Escolher um autor é também um modo de promover a investigação à volta da sua obra. No caso de Maria Mariño Carou sabia-se que, para além dos livros acima referidos, existiam duas outras obras inéditas: «Más allá del tiempo» e «Los años pobres. Memorias de guerra e postguerra». A primeira conheceu agora publicação, no passado mês de Março. Os escritos de guerra e pós-guerra continuam inéditos.


(adptação de um texto de Fernando Martinho Guimarães)
retirado do blogue Incomunidades



http://www.17demaio.org/




O Dia das Letras Galegas é um dia de celebração em torno da língua galego-portuguesa. Começou a celebrar-se no ano de 1963, coincidindo com a celebração do centenário da primeira edição de Cantares Galegos, de Rosalia de Castro (17 de Maio). Cada ano subsequente tem vindo a ser dedicado a um escritor em língua galega:

1963 Rosalia de Castro
1964 Alfonso Daniel Rodríguez Castelao
1965 Eduardo Pondal
1966 Francisco Añón Paz
1967 Manuel Curros Enríquez
1968 Florentino López Cuevillas
1969 Antonio Noriega Varela
1970 Marcial Valhadares Nunes
1971 Gonçalo Lópes Abrente
1972 Valentím Lamas Carvajal
1973 Manoel Lago Gonzáles
1974 João V. Viqueira Cortón
1975 João Manuel Pintos Vilhar
1976 Ramón Cavanilhas
1977 Antón Vilar Ponte
1978 Antonio Lópes Ferreiro
1979 Manuel Antonio
1980 Afonso X de Leão e Castela, O Sabio
1981 Vicente Risco
1982 Luis Amado Carvalho
1983 Manuel Leiras Pulpeiro
1984 Armando Cotarelo valledor
1985 Antón Losada Diéguez
1986 Aquilino Iglesia Alvarinho
1987 Francisca Herrera Garrido
1988 Ramón Otero Pedraio
1989 Celso Emilio Ferreiro
1990 Luis Pimentel
1991 Álvaro Cunqueiro
1992 Fermín Bouza-Brei
1993 Eduardo Blanco Amor
1994 Luis Seoane
1995 Rafael Dieste
1996 Jesús Ferro Couselo
1997 Ángel Fole
1998 Martim Codax, Joham de Cangas e Meendinho (em conjunto, autores de diversas cantigas medievais)
1999 Roberto Blanco Torres
2000 Manuel Murguía
2001 Eladio Rodrígues
2002 Frei Martím Sarmiento
2003 Antón Avilés de Taramancos
2004 Jaquím Lourenço Fernándes
2005 Lourenço Varela
2006 Manuel Lugrís Freire
2007 María Mariño Carou

Colóquio Temático sobre Orientação Sexual -"LGBT:Cidadania Plena Para Tod@s"

O colóquio temático sobre Orientação Sexual, “LGBT: Cidadania Plena Para Todos”, inserido no âmbito do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos (AEIOT), realiza-se hoje, 17 de Maio de 2007, e terá lugar no Auditório III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) ao longo do dia.

Entrada livre


LGTB denomina o movimento de luta contra a discriminação e de defesa dos direitos das populações LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros).O objectivo desta iniciativa que está inserida no âmbito das actividades a serem desenvolvidas ao longo do ano de 2007 - Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para todos - é sensibilizar a população para os benefícios de uma sociedade mais justa e solidária


Programa completo: aqui