12.2.06

Nada substitui a luta ( letra e voz de Alberto Júlio)



Nada substitui a luta
Nada, nada, meu irmão
Nem a força resoluta
Da tua mão na minha mão

Nada, nada, mesmo nada
Tem a força que nos vem,
De sabermos que quem vence
É quem luta – e mais ninguém

Que não venham ensinar
Este povo de esquecidos
A pensar, a não pensar
Em dias mais divertidos

Que não venha os doutores
Falar a quem os não escuta
De nós é que sai força
Que dá força a toda a luta

Que não venham dizer povo
Com voz que soa a traição
Senhores a quem nos vendemos
P’ra podermos comer pão

Que não venham com arzinhos
De quem já é democrata
Bem sabe o cão como é o dono
Inda quando lhe não bata

Que nos deixem repartir
O que sobra e o que falta
E que o fruto do trabalho
Seja bem de toda a malta

Somos todos um só povo
Quando tudo for de todos
E não seja o verbo ter
Conjugado de dois modos

Alberto Júlio, letra e voz
Álbum: «Não, não dobro o cachaço», disco editado em 1975

O maior merceeiro português, financeiro fracassado, quer ser empresário de 3ª geração!


O grupo Sonae tem, desde há 20 anos, uma fábrica de fazer dinheiro que se chama Continente e que se tornou na mercearia de Portugal, arrasando o comércio tradicional um pouco por todo o lado, proletarizando e precarizando milhares de pequenos e médios comerciantes e assalariados.
Sabe-se também que o mesmo Grupo económico é liderado pelo marcoense Belmiro de Azevedo, engenheiro químico de formação, mas que se mostrou mais habilitado, e infinitamente mais competente, no cargo de gestor de empresas do grupo Pinto de Magalhães porque, com uma mestria pouco comum, conseguiu por artes e magias reciclar-se de quadro superior do dito conglomerado capitalista em dono e proprietário das suas empresas mais valiosas e rentáveis.
Mas os seus dotes só foram devidamente reconhecidos quando o ex-gestor, e engenheiro químico, se dedicou ao retalho do ramo alimentar que é como quem diz quando se decidiu lançar em Portugal a moda dos hipermercados. O sucesso foi tal que os Continentes se tornaram rapidamente em verdadeiras catedrais de consumo do povo crente e humilde como passaram a servir de mina de ouro para os projectos empresariais do inefável engenheiro químico de Marco de Canaveses, que não deixou passar a ocasião para, aos solavancos, se tornar no homem mais rico do país, apesar do fracasso em que resultou a sua tentativa de se tornar em banqueiro do povo, com o seu Banco Universal e que teve de fechar portas, pouco tempo depois de abrir - amargos de boca esses que não beliscaram, no entanto, o seu capital tal era a liquidez que a maior mercearia de Portugal lhe assegurava.
Alcandorado a um alto patamar social, com algum marketing à mistura ( e muito Público pelo meio), este neófito das classes altas lusas, filho de modista e barbeiro de província, a quem o espírito do capitalismo e o risco do empreendorismo era, de todo, desconhecido, nascido lá para as fraldas do Marão, este espécime do Portugal profundo, decide agora fazer a aposta da sua vida ( ele conta actualmente com 68 anos) e anuncia, trovejante e determinado, a sua firme intenção e vontade de comprar a maior empresa portuguesa, e a mais cosmopolita que cá temos, a Portugal Telecom.
E eis que o nosso merceeiro-mor exibe toda a sua ambição em se reciclar. Aderir à novel e promissora sociedade de Informação. Tornar o seu empório económico em modelo tecnológico do futuro é agora o seu propósito. Não será de estranhar que a breve trecho se venha a desfazer-se do comércio a retalho, tentando ocultar a sua faceta anterior em que a venda do sustento alimentar aos portugueses era a sua principal fonte de enriquecimento. Daqui para diante – pensará ele – assumir-se-á como um empresário imaterial das comunicações.
Os nossos políticos não escondem o seu regozijo. Os «socialistas», então, já sonham com o capitalismo cognitivo do Bill Gates, a Sonae de terceira geração e o MIT sebastiânico. O problema é que, com tantas ilusões virtuais e capitalismo recauchutado, mais uma vez se esquecem da nossa triste e leda realidade - Marco de Canavezes, Pulo do Lobo e Freixo-de-Espada-a-cintra – onde vivem e lutam as pessoas de carne e osso