6.4.05

Crítica à globalização alimentar

Por efeito da globalização cultural e económica os 6 best-sellersgastronómicos são a pizza, o hamburger, o kebab, o sushi, o cappuccino e acoca-cola.

Estes são os exemplos mais vulgares da globalização alimentar que estáincluída no fenómeno mais geral da globalização económica e cultural, e quese traduz, no fundo, por uma homogeneização alimentar segundo os padrões devida ocidentais em prejuízo das dietas locais e da biodiversidade cultural egastronómica de cada cultura.

Essa globalização do gosto alimentar consiste na difusão à escala global deprodutos alimentares estandardizados distribuídos por potentesmultinacionais do sector agro-alimentar e propulsionados por agressivascampanhas publicitárias.

A própria Coca-Cola gosta de se auto-promover recordando que está presenteem mais de 200 países, querendo ocultar com isso que ela é eminentementeuma bebida ocidental ( mais propriamente , americana), cujos anúncios sãoquotidianamente matraqueados nos mass media de todo o mundo por via decolossais campanhas publicitárias, e ainda por cima com um público-alvoidentificado com os jovens consumidores e pretendendo «vender» ( ou serum símbolo de ) uma eterna juventude !!!

Contra este homogeneização dos gostos culturais - neste caso, daalimentação, mas que poderíamos estender a muitos outros domínios como ovestuário, as soap-operas e telenovelas e reportagens da TV, etc,etc - têmemergido várias formas de resistência.

É o caso, por exemplo, do movimento Slow-food animado pelo italiano CarloPetrini, E muitos outros exemplos se poderiam indicar para ilustrar comoé que, consciente ou muitas vezes inconscientemente, as pessoas se metem aresistir contra a «imposição» de padrões de vida americanizados ( a maiorparte deles tem origem no american way of life) .


Agir local, pensar global.




O tema do Dia Mundial da Alimentação de 2004 foi "a biodiversidade ao serviço da segurança alimentar".


Na comunicação dirigida por ocasião do Dia Mundial da Alimentação(16/10/2004), KofiAnnan escreve:

"A biodiversidade fornece a reserva genética de plantas, animais emicroorganismos para a produção de alimentos e para a produtividadeagrícola. Assegura a protecção de ecossistemas que fornecem serviçosessenciais, ao fertilizarem o solo, reciclarem os nutrientes, regularem aspragas e doenças, diminuírem a erosão e fecundarem as culturas eárvores.(...)"

Segue-se o texto completo(façam o favor de ler integralmente com a máxima atenção, O mundo e ahumanidade agradecem)

MENSAGEM DO SECRETÁRIO-GERAL DA ONU, KOFI ANNAN,POR OCASIÃO DO DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO16 de Outubro de 2004

Cerca de 840 milhões de pessoas sofrem de fome crónica. Nunca houve tantosseres humanos a passar fome, o que é inaceitável no nosso mundo deabundância. Num planeta que tem capacidade de alimentar todos os homens,mulheres e crianças, é necessário fazer progressos - nos planos político,económico, científico e logístico - para alcançar o Objectivo deDesenvolvimento do Milénio que consiste em reduzir para metade, até ao anode 2015, a proporção de pessoas que sofrem de fome.Este ano, o tema do Dia Mundial da Alimentação, "a biodiversidade ao serviçoda segurança alimentar", realça o papel essencial da biodiversidade na lutacontra a fome. A biodiversidade fornece a reserva genética de plantas,animais e microorganismos para a produção de alimentos e para aprodutividade agrícola. Assegura a protecção de ecosistemas que fornecemserviços essenciais, ao fertilizarem o solo, reciclarem os nutrientes,regularem as pragas e doenças, diminuírem a erosão e fecundarem as culturase árvores. Aqueles que têm um bom conhecimento da biodiversidade,nomeadamente os agricultores responsáveis pela saúde e bem-estar das suasfamílias, sabem como se alimentar em tempos de crise, quando surge umconflito civil, uma catástrofe natural ou uma doença incapacitante.A perda de diversidade biológica a um ritmo sem precedentes, ocorridadurante o século passado, deveria preocupar-nos seriamente. Muitas espéciesde peixes de água doce, que podem assegurar a variedade essencial da dieta das famílias mais pobres, encontram-se em vias de extinção, e grande partedos mais importantes recursos haliêuticos marinhos do mundo foi dizimada. Asnossas reservas alimentares tornaram-se também mais vulneráveis, em virtudede dependermos de um pequeno número de espécies: apenas 30% de espécies deculturas dominam a produção de alimentos e 90% do carne que consumimosprocede de apenas 14 espécies de mamíferos e de aves - espécies que, por suavez, dependem da biodiversidade para a sua produtividade e sobrevivência.Tem-se registado uma redução substancial da biodiversidade agrícola e muitasespécies de animais domésticos estão ameaçadas de extinção.Em 2002, as partes na Convenção sobre Diversidade Biológica comprometeram-sea conseguir, até ao ano de 2010, uma redução significativa da actual taxa deperda de biodiversidade, um objectivo posteriormente aprovado na ConferênciaInternacional sobre Desenvolvimento Sustentável. Se não intensificarmos osnossos esforços para atingir essa meta e para preservar e usar de uma formasustentável a preciosa biodiversidade mundial, não cumpriremos o nosso deverde alimentar o mundo. E, se falharmos, restarão poucas esperanças deerradicar a pobreza extrema. Neste Dia Mundial da Alimentação, apelo aosindivíduos e às instituições, para que prestem mais atenção à biodiversidadecomo um elemento-chave da nossa luta contra os dois flagelos que são a fomee a pobreza e dos nossos esforços para alcançar os Objectivos deDesenvolvimento do Milénio.

Links: http://www.feedingminds.org/
http://www.fao.org/wfd/index_en.asp

Espectador é uma palavra obscena



Sim, o espectador é uma palavra obscena. O espectador não é mais que um homem. Um homem que precisa de ser humanizado, e a sua capacidade de acção ser inteiramente reconhecida. Ele deve ser sujeito, actor, nas mesmas condições que os outros que se tornarão, por sua vez, espectadores.
Todas as experiências do teatro popular têm um único objectivo: libertar o espectador das imagens acabadas do mundo que lhes foram incutidas. As pessoas que fazem teatro pertencem, directa ou indirectamente, às classes dominantes: as suas visões resultam, pois, da sua origem. Ora o espectador do teatro popular, o povo, não pode nem deve continuar a ser a vítima passiva destas imagens.
É já plenamente reconhecido que a poética de Aristóteles é a da opressão. O mundo tal qual o conhecemos é perfeito, logo os seus valores devem ser impostos aos espectadores .Estes delegam passivamente o seu poder aos personagens para que actuem e pensem na sua vez. Os espectadores purgam assim o seu erro trágico, isto é, algo que seja capaz de transformar a sociedade. Catarse da pulsão revolucionária! Aqui a acção dramática substitui a acção real.

A poética de Brecht é a das vanguardas iluminadas: mostra-se aí um mundo transformável e a transformação começa no próprio teatro. O espectador não delega os seus poderes para que alguém pense na sua vez, mesmo quando delega a outro para ser representado. A experiência é esclarecedora ao nível da consciência mas não a nível da acção. A acção dramática ilumina a acção real. O espectáculo prepara a acção.

A poética do oprimido é, desde logo, a de uma libertação: o espectador não delega nenhum poder para que alguém actue ou pense na sua vez. Ele liberta-se, age e pensa por ele próprio. O teatro é acção.
Este teatro não é talvez revolucionário, mas - tranquilizai-vos – ele é uma imagem da revolução

Augusto Boal, in Teatro do Oprimido

Poesia ( livros recentes) e não só…



*Anos 90 e Agora- selecção da poesia portuguesa dos anos 90 por Jorge Reis-Sá, edições Quasi

*Desfocados pelo Vento – A poesia dos Anos 80 Agora , selecção e organização de Valter Hugo Mãe, edições Quasi

*Antologia da Poesia Experimental Portuguesa 1960- 1980, organizada por Carlos Mendes de Sousa, e Eunice Ribeiro, edições Angelus Novus

*Poesia, de António Maria Lisboa, edi. Assírio e Alvim

*A mulher. Antologia de poesia, organizada por Natália Correia, edições Artemágica

*Poesia Digital, Sete poetas dos anos 80, vários autores, edição Campo das Letras

* Obra Poética, Vol I ,II, III, de Cruzeiro Seixas, ed. Ouasi

* Caras Baratas, de Adília Lopes, ed. Relógio d’água

* O Canto de Todos, reunião de letras das canções de Violetta Parra, edições Ela por Ela


Prosa:

*Os Subterrâneos , de Jack Kerouac, ed. Relógio d’Água

* Franz Kafka, para uma literatura menor, por Gilles Deleuze e Félix Guattari, ed. Assírio e Alvim

As Artes Plásticas de 1900 até 1945

A transição do século XIX para o seguinte foi marcada logicamente pelas tendências ideológicas e estéticas que se vinham desenhando nas últimas décadas oitocentistas. Inclusivamente a I Grande Guerra foi o resultados dos nacionalismos exasperados que se desenvolveram no século anterior. A europeização do mundo estava na em crescendo. Em termos artísticos, Paris era a capital do mundo da arte. Não admira que emergisse todo uma atitude de crítica às tradições até aí então em voga, e se sentisse um forte vento de mudança, ajudado pelas inovações tecnológicas e económicas que se registava.
Aparecem as vanguardas artísticas e literárias que pretendiam romper com o estabelecido e introduzir inovações através da originalidade, do experimentalismo e da pesquisa permanente, o que teve como efeito o divórcio do elitismo para com o público geral. Os artistas reúnem-se em movimentos , publicam livros, revistas e manifestos.

A arte vanguardista convergiu fundamentalmente para a dissolução da imagem figurativa, libertando a pintura da representação de objectos e do espaço.

O Fauvismo
foi o primeiro movimento vanguardista que pretendia libertar justamente a cor da realidade natural. A designação deriva do termo francês «fauve» ( fera) e foi atribuída ao grupo de artistas que se reuniam à volta de Henri Matisse (1869-1958), e que expuseram no Salão de Outono de 1905 em Paris ( André Derain, Maurice de Vlaminck, Georges Rouault, Kees van Dongen), todos eles que enalteciam o valor da cor como elementos privilegiado da composição pictórica, com tons fortes, quentes e vibrantes. Cerca de 1908 o fauvismo extingue-se, e os seus arautos seguem caminhos próprios.

O Expressionismo
nasce, mais ao menos ao mesmo tempo, na Alemanha e estende-se aos vários domínios artísticos e exerce uma influência muito mais duradoura. Tal como acontecera com os simbolistas, o expressionismo surge como reacção ao objectivismo do impressionismo e às limitações de uma pintura inspirada na percepção visual, pretendendo explorar o mundo das emoções e das sensações interiores. Caracteriza-se por uma pintura cheia de energia e vitalidade. A obra passa a ser um veículo do universo subjectivo do homem. A tudo isto não é estranho as ideias de um Nietzsche, da fenomenologia de Husserl e de um Bergson. E as influências vão desde a arte negra até Van Gogh, James Ensor e Edward Munch.
A primeira vanguarda expressionista é representada pelo grupo Die Brucke ( 1905-1913), fundado em Dresden, e que reúne nomes como Ernst Kirchner (1886-1938), Erich Heckel (1883-1970), Karl Schmidt-Rottuff ( 1884-1976), Fritz Bleyl e Emil Nolde. As suas pinturas compunham-se de cores violentas e figuras deformadas, com pinceladas vigorosas, representando temáticas de crítica social, num sentido irónico, grotesco ou dramático. Em 1913, Kirchner redige o manifesto do grupo, A Crónica do Die Brucke, enunciando uma pintura que estabeleceria a ponte entre o visível e o invisível, e uma arte que pretendia exprimir o impulso criador.
Com a I Grande Guerra o grupo dissolve-se vindo a influenciar a criação do movimento «Nova Objectividade» fundado em 1925 por Max Beckmann (1884-1950), Otto Dix (1891-1969) e George Groz (1893-1959). Denunciando a perversidade, a decadência, a injustiça e a desordem da sociedade, o Expressionismo subsiste até os nazis o acusarem de «arte degenerada».

Em 1910 é fundada em Munique a segunda vanguarda do Expressionismo por via do grupo Der Blaue Reiter ( «O Cavaleiro Azul»), por Wassily Kandinsky (1866-1944) e Franz Marc, Auguste Macke, A. Jawlensky, Paul Klee (1879-1940), que se reuniram à volta do primeiro e das suas teorias expressas na obra «Do Espiritual na Arte» de 1912. Aí comparou a linguagem plástica com a musical, definindo a obra como uma necessidade interior, a qual se acede através da «intuição» ou «empatia». As suas teses sobre uma pintura sem objecto, assente em composições abstractas com uma dimensão lírica e poética, foram a génese da arte abstracta. Nesse mesmo ano, Kandinsky e Marc publicaram o Almanaque do Cavaleiro Azul, uma compilação de ideias e ilustrações ( desenhos infantis, gravuras medievais, arte primitiva, e alguma arte moderna) a que associaram canções de Schonberg, Berg e Webern.

Entre 1905 e 1913 aparece a chamada Escola de Paris que abrange um número considerável de artistas de várias proveniências e nacionalidades e atraídos pela capital das artes. Esta geração de pintores malditos partilhava o gosto pela vida boémia, o espírito excêntrico e transgressor, a busca incessante da originalidade e o empenho absoluto na arte como forma de vida. Quanto à opções artísticas privilegiavam um estilo figurativo e à margem das vanguardas. De entre outros destacam-se nomes como o italiano Amadeo Modigliani (1884-1920), o russo Marc Chagall (1887-1985), o lituano Chaim Soutine (1894-1943), o polaco Moise Kisling, o búlgaro Jules Pascin, e o japonês Tsuguharu Foujita.

O Cubismo foi a vanguarda que dominou a cena artística parisiense entre 1907 e 1914, apesar dos seus fundadores – Pablo Picasso (1881-1973) e Georges Braque ( 1882-1963) – nunca terem utilizado o termo.
Enquanto as anteriores vanguardas abordavam os problemas da expressão e da cor, Picasso e Braque abordaram os problemas da forma e do espaço. Os cubistas contrapunham um outro olhar - inspirados sem dúvida no primitivismo das máscaras africanas, e ainda na Teoria da Relatividade, que estabelecia a equivalência entre matéria e energia e a relatividade do espaço e do tempo – um olhar em movimento, que podia ver o objecto a partir de diferentes pontos de vista, substituindo a imagem visual por uma imagem mental.
Neste sentido, a obra «As Meninas de Avignon» de Picasso, considerada a primeira criação cubista, deu sequência ao problema formal colocado por Cézanne: reduzir toda a realidade a estruturas simples e elementares, e procurar uma nova maneira de a representar. E é sob a influência deste último que se desenrolará a fase cézanniana (1907-1909) dominada pela geometrização das formas, e a eliminação da profundidade e do claro-escuro e sobreposição de planos. Seguiu-se a fase analítica (1910-1912) caracterizada pela análise exaustiva dos objectos, decompondo-os e reduzindo-os à bidimensionalidade. Finalmente temos a fase sintética (1913-1914) caracterizada pela redução do espaço e das formas uma síntese e acumulação de planos, cada vez mais esquematizados, e pela introdução de collages. O quadro torna-se assim um objecto em si mesmo.

O Cubismo gerou 3 movimentos de curta duração: a Section d’or, o orfismo e o purismo. O primeiro foi criado em 1912 pelos irmãos Duchamp ( Jacques Villon, Raymond Duchamp-Villon, e Marcel Duchamo), juntamente com Frank Kupka, Francis Picabia e Archipenko. Inspirando-se nos fundamentos da Secção de Ouro – um sistema de proporções geométricas – estes artistas pretenderam resolver problemas de harmonia e proporção da composição, motivados pelas relações matemáticas e geométricas.
Ao assistir a uma das suas exposições, Apollinaire, escritor e crítico, designou de Orfismo as obras expostas de Obert Delaunay. Recuperando o mito de Orfeu, Apollinaire referia-se aos ritmos e aos efeitos cromáticos puramente abstractos, criados pelas formas circulares com referências líricas e musicais. O orfismo é representado por Delaunay, a sua mulher Sónia Terk Delaunay, Fernand Léger, e outros artista da Section d’or que evoluíram para a abstracção geométrica.
Apesar de ligado ao cubismo, o Purismo rejeita a destruição das formas e defendem a estrutura rigorosa dos objectos e a clareza das composições. As suas figuras são Amédée Ozenfant e Le Corbusier ( 1887-1966).

O Futurismo nasce em Paris a 20 de Fevereiro de 1909 quando o jornal Le Fígaro publica o Manifesto do Futurismo pelo poeta italiano Filippo Marinetti (1876-1944). A ele aderiram. De imediato vários pintores italianos ( Umberto Boccioni, Giacomo Balla, Carlo Carrà, Gino Severini, Luigi Russolo). O manifesto e o café-teatro são os meios utilizados por este movimento para se dar a conhecer. De forma violenta, subversiva e incendiária, Marinetti propunha a renovação radical e regeneradora dos temas, das formas e das linguagens artísticas. Marinetto exalta a tumultuosa vida moderna, louva a agitação frenética das metrópoles industriais , elogia a máquina e a beleza da velocidade. O seu nacionalismo extremo e adesão de Marinetti ao Fascismo marcam o declínio do movimento.


O Vorticismo ( do latim, vortex: turbilhão) partilha com o cubismo a tendência para a geometrização das formas, herdando do futurismo o fascínio pelas máquinas e pelo movimento.

A Revolução Russa de 1917 protagonizada pelos bolchevistas trouxe todo um novo ambiente cultural à nova Rússia que explica a emergência de uma nova geração russa, a vanguarda russa. Natália Gontcharova e Mijail Lariónov foram influenciados pelo cubismo.Mas o movimento que mais se impôs foi o futurismo através do chamado cubo-futurismo ( com nome como Maiakovski, Vladimir Tatlin, Casimir Malevitch, Liubov Popova)
Das mesmas influências emergiu o Raionismo,uma doutrina divergente da anterior, concebida por Gontcharona e Lariónov em 1913, uma espécie de síntese do Cubismo, Futurismo e Orfismo, mas com uma maior aproximação á abstracção, e que se fundamentava nas leis da física da cor e da luz.
As ideias deste último irão pesar no Suprematismo ( de Malevitch) e no Construtivismo ( de Tatlin)


Embora de forma nem sempre consciente, as principais vanguardas do início do século XX convergiam no sentido de dar maior autonomia à pintura relativamente à experiência visual da realidade exterior dos objectos e para entenderem quadro como um objecto estético independente de quaisquer referências exteriores a si próprio.

O primeiro passo para a concepção de uma expressão plástica não figurativa foi dado por Konrad Fiedler (1841-1895) que lançou as bases da corrente «formalista» e da «teoria da visibilidade pura», entendendo a natureza da arte como a manifestação de formas representadas, com «intenções visuais puras» por parte do artista. Mas foi Worringer quem, decisivamente, abriu as portas para a «forma abstracta». Apoiando-se na ideia de Einfuhlung, este filósofo alemão propunha a explicação da obra de arte através de sentimentos que as formas despertam em nós, por intuição e empatia, acentuando o significado interior da forma e remetendo para segundo plano aquilo que ela representava. Nascia, assim, o primeiro fundamento da arte abstracta. É abstracta toda a arte sem qualquer referência à realidade observada; uma arte que devemos julgar apenas do ponto de vista da harmonia, da composição, da ordem e de um espaço animado por linhas, formas, cores, luz, materiais e técnicas.

Kandinsky foi o pioneiro da arte abstracta. A partir das experiências realizadas no seio do grupo Der Blauer Reiter, o pintor russo formulou a ideia de que um quadro pode prescindir totalmente da representação. A primeira pintura abstracta é « Primeira Aguarela Abstracta».
O Abstracionismo é seguido ainda por Paul Klee e pela Bauhaus. Klee recorre ao inconsciente para fazr emergir ummundo de fantasia, magia e sonho.



O Suprematismo aparece em 1913 quando Malevitch, o escritor Kruchenik e o compositor Matishin fundam o «Primeiro Congresso de Futuristas de todas as Rússias» e anunciam num manifesto a realização da ópera futurista «Vitória sobre o Sol». Numa linguagem desprovida de qualquer sentido ou lógica – a música é composta por gritos e ruídos – a obra celebra o domínio da técnica sobre a natureza, segundo o ideário futurista.Malevitch desenha o guarda-roupa e os cenários numa linguagem geométrica e abstracta que o levam ao Suprematismo.
Na «Exposição 0,10»em 1915, Malevitch apresenta 39 obras não-objectivas, isto é, totalmente abstractas, constituídas por figuras geométricas monocromáticas dispostas livremente sobre fundos brancos, renunciando a tudo o que pudesse produzir qualquer tipo de sugestão, ideia ou emoção. Entre elas figurava o «Quadrado Negro», um simples quadrado negro sobre uma superfície branca, e que constituía uma reacção iconoclasta contra a maneira tradicional da pintura. Malevitch chega às formas básicas não-objectivas ( o quadrado, o círculo, a cruz) e a redução cromática ( cores primárias, o branco e o preto). O expoente máximo do suprematismo é a obra « Quadrado branco sobre branco».

Por sua vez, Tatlin apresenta em 1913 os seus «Contra-Relevos», objectos em metal e madeira, libertos de qualquer objectividade ou figuração que o levará ao Construtivismo em 1915, onde se defende uma arte de sentido útil e funcional, empenhada no progresso permitido pelas novas tecnologias. Outros nomes do construtivismo são Rodchenko, El Lissitzky.


O neoplastcismo aparece-nos pela mão do holandês Piet Mondrian (1872-1944). Este, depois de se ter aproximado dos fauves e do cubismo, chega à abstracção através de um processo conciso de depuração da forma, decompondo imagens em planos e fragmentos lineares até atingir uma síntese de formas puras e cores primárias. O seu carácter místico e religioso e a sua busca por uma explicação ontológica é traduzido pela adesão à Sociedade teosófica (universalista, esotérica e filosófica). Em 1917 funda com Théo Van Doesburg a revista De Stijl (O Estilo), cujo primeiro manifesto é proclamada a necessidade de uma «nova plástica» que elimine qualquer cópia da natureza, combata o individualismo e anuncie uma harmonia universal, «uma unidade internacional na Vida, na Arte e na Cultura». A partir daqui Mondrian cria o Neoplasticismo, uma linguagem puramente abstracta e racional, regida pela geometria, sem subjectividade nem emotividade preconizando uma sociedade equilibrada e universalista. Poucos anos depois o movimento chaga ao fim, não sem antes ter influenciado a arquitectura e arte por via de nomes como Gerrit Rietveld, Jacobus Oud, e a Bauhaus.



Durante a i Grande Guerra, a Suiça manteve-se neutral, constituindo um refúgio para muita gente. Daí não ser estranhar que para lá confluíssem artistas e escritores. O Cabaret Voltaire, aberto em 1915 pelo poeta alemão Hugo Ball, em Zurique, tornou-se ponto de encontro de emigrados e refugiados e as suas sessões começam a ser muito concorridas. As perfomances de música, declamação, dança, exposições misturam música de Satie, Schonberg, bruitisme ( música de ruídos), poemas tribais, poemas com sílabas sem nexo, interjeições, tudo feito com mais ou menos improvisações, e protagonizados por poetas espontâneos, que criam manifestos contra tudo e todos. Tratava-se no fundo de uma confluência de vanguardas, aquilo que aconteceu em Zurique.
De lá surgiu o dadaísmo em 1916 protagonizado pelo poeta romeno Tristan Tzara (1896-1963), o casal Jean Arp, e Sphie Taeuber. No ano seguinte, o Dada já era internacionalmente conhecido, aceitando todas as experiências que destruíssem os valores e as normas estéticas estabelecidas, questionando até os próprios conceitos de arte, obra e artista. O espírito nihilista exaltava a espontaneidade, a anarquia e o individualismo da criação. Em 1918 Tzara apresenta o Manifesto Dada, quando o movimento já se expande em vários núcleos: Raoul Haussmann, John Heartfield, Geroge Groz em Berlim; Kurt Schwitters e os seus Merzbilders em Hannover; Max Ernst em Colónia; Jean Arp e Man Ray (1887-1968) em Paris; Francis Picabia e Marcel Duchamp em Nova Iorque. São adoptadas técnicas combinatórias ( a colagem, a assemblage, a foto-montagem), reinventadas as relações entre objectos ( o ready-made, objectos retirados do seu contexto e convertidos em obras de arte) e legitimados novos conceitos. O Dadaísmo influenciou posteriormente o Surrealismo, o Informalismo e constitui um antecedente da Arte conceptual.


O fim da I Grande Guerra trouxe não poucas consequências quer a nível político ( ascensão de movimentos políticos, revoluções), económico ( Europa arruinada, ambiente eufórico nos Estados Unidos até aos crasch de 1929), e artístico-cultural ( revitalização de linguagens pictóricas, uma espécie de «regresso à ordem» depois dos excessos do experimentalismo vanguardista).


É neste contexto que surge o Surrealismo fundado por André Breton (1896-1966) que publica o Manifesto do Surrealismo em 1924. Influenciado por Freud, pela poesia de Rimbaud e Baudelaire, a pintura de Chirico e a poética dadaísta, Breton defendia que a criação artística devia resultar da experiência psíquica do inconsciente, emancipando a imaginação dos entraves da razão e de factores de ordem social e cultural: «Surrealismo –puro automatismo psíquico, através do qual podemos expressar verbalmente, por escrito ou qualquer outro meio o processo real do pensamento». Diferenciam-se então duas tendências: a do automatismo psíquico ou livre associação com Joan Miró (1893-1983, Max Ernst (1891-1976), André Masson; e a da via onírica com Salvdor Dali (1904- 1989), René Magritte (1898-1967), Yves Tanguy.

Outra corrente que recuperou a representação figurativa foi o Neo-Realismo que teve na América latina, por influência da revolução mexicana de 1910, o seu momento alto durante os anos 20 e 30 por intermédio de Diego Rivera (1886-1957), José Clemente Orozco e David Siqueiros, os quais assumiram um forte empenhamento político e social. Estes autores recuperaram ainda a tradição dos frescos murais monumentais, marcados pelas tradições aztecas e maias.