2.4.05

Eco-feminismos



O termo eco-feminismo foi proposto pela francesa Françoise d’Eaubonne que assim chamou a atenção para a contribuição que o movimento feminista poderia trazer para as lutas ecologistas.
Tal como se podem encontrar vários feminismos, também assim será possível identificar outros tantos eco-feminismos.

Comum ente todos os eco-feminismo é a tese segundo a qual existe um paralelismo e uma mesma lógica entre a relação de dominação dos homens sobre a natureza e a relação de dominação masculina sobre a mulher no contexto das nossas sociedades patriarcais. Ou seja: a caracterização da natureza como objecto não é substancialmente diferente da consideração da mulher como objecto.
As causas para a dominação da mulher e da exploração da natureza são pois de carácter eminentemente histórico-social, das estruturas de poder e de dominação que se institucionalizam em modelos sociais de comportamento e padrões culturais dominantes.
Daí que o eco-feminismo adopte uma perspectiva anti-hierárquica, contra a violência e o militarismo. A resistência feminista e ecologista são dois aspectos da mesma luta para as eco-feministas.

Podemos identificar , entre outras, quatro correntes no eco-feminismo:

a)o eco-feminismo de carácter cultural, próprio do feminismo radical dos anos 70 e 80, que valoriza os aspectos vivenciais e pessoais, sem negar no entanto a problemática sócio-político das questões ambientais. Esta corrente preconiza a procura de novas relações espirituais

b) o eco-feminismo social que se preocupa mais com as questões sociais e as transformações das estruturas sociais e políticas para a natureza e a mulher assumirem outro lugar que não de simples objecto de uso e exploração

c) o eco-feminismo pluralista e contextutalista que defende teses ligadas ao relativismo ético, ao pluralismo e diversidade cultural, e que rejeita as dualidades da cultura ocidental ( homem-natureza, corpo-espírito, razão-emoção, civilizado-primitivo,mental-manual, macho-fêmea). Esta corrente crítica qualquer «masculinização» da mulher o que a levaria a tomar o papel de dominação protagonizado até agora pelo homem.

d) o anarco-feminismo que mobiliza as críticas feministas ao poder patriarcal como as ideias libertárias de crítica aos vários poderes ilegítimos e às estruturas de poder verticais, preconizando formas de organização social de carácter horizontal.

Abel Salazar

pelo professor Nuno Grande


Abel Salazar foi, porventura, a personalidade mais plurifacetada da cultura portuguesa. De facto, na investigação científica como na pintura, na escultura como na gravura, no cinzelado como na literatura, se exprime um espírito original, imaginativo e rigoroso, como não há paralelo na história cultural portuguesa.

Verdadeiro homem da Renascença, associou uma sensibilidade apurada e um sentido crítico arguto a uma necessidade imperiosa de busca de novas referências, que deram a dimensão da obra gigantesca que nos legou.

Não é possível relacionar essa obra com qualquer escola científica, artística, filosófica ou ideológica, porque Abel Salazar não cabia em chavetas sistematizantes, dizendo de si próprio que poderia ser classificado como anarquista científico.

Inovador em todas as manifestações de um espírito inquieto, foi-o também como pedagogo, o que acabou por se tornar uma característica utilizada pelo Conselho Escolar para o afastar do convívio com os alunos e com a Faculdade.
Foi acusado de estar mentalmente perturbado, pois punha alunos a dar aulas teóricas, facto cujo ineditismo para a época revela a preocupação de estimular os mais dotados para a docência. Procurava despertar e orientar o inconformismo natural dos jovens, ensinando-os a pôr questões e a equacionar processos de procura de resposta a essas questões.

Por isso criticava o "urso", aluno que estudava apenas para obter boas classificações numa postura passiva em face do saber oficial.

Abel Salazar manteve o laboratório aberto durante o dia e a noite, de modo a que os alunos pudessem ter acesso, se o quisessem, a todos os meios de aprendizagem, não tendo cedido às pressões dos que pretendiam ser esta atitude perigosa para o património da Faculdade. Assim distinguia os alunos com maior capacidade para programar os tempos de trabalho. A esses estimulava a auto-aprendizagem e a participação em programas de pesquisa laboratorial. A avaliação dessa aprendizagem incluía não só a valorização dos conhecimentos adquiridos, como também a capacidade de observação, o método descritivo, o sentido analógico e a capacidade interpretativa. Estas características não vinham nos livros ou nas "sebentas" mas permitiram distinguir alguns dos que mais tarde foram seus colaboradores e seguidores. Não fora a injustiça e a prepotência que o impediram de continuar a exercer a docência e estavam criadas as condições para se ter constituído uma verdadeira Escola de Histologistas no Porto.

Abel Salazar foi também um excepcional divulgador, escrevendo nos jornais, de grande e pequena tiragem, artigos de divulgação do conhecimento científico e de opinião cívica que são testemunho das qualidades pedagógicas deste professor que paradigmatiza o verdadeiro Mestre.
Recordá-lo nos cinquenta anos da sua morte é um acto salutar para a sociedade portuguesa, cada vez mais carente de referências dignificantes. (* Director do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar)

(Artigo do Prof. Nuno Grande, publicado em 29 de Dezembro de 1996 no jornal Publico)

50 anos (1954-2004) de rock ou a entrada fulgurante da música negra na cultura pop(ular) ocidental

Em 1954 Elvis Presley grava "That's all right mama" nos Sun Studios em Memphis, que ficou conhecida por ser uma música de um rapaz branco que cantava como se fosse um negro. Anteriormente havia outros discos e grupos que tocavam o rock'n roll mas eram todos eles músicos negros.

Em 1955 é editado "Maybelline is released" de Chuck Berry que pela primeira vez se refere explicitamente a duas das constantes do rock'n roll americano: as miúdas e os carros, destapando um filão onde irão inspirar-se figuras e grupos como Beach Boys, Beatles, Rolling Stones, Bruce Springsteen.

Em 1958 Elvis Presley sai do serviço militar com feições já acentuadamente masculinas, e a sua música, apesar de já ter soar um pouco fora-de-moda, é aproveitada pela indústria musical. Pela primeira vez um rocker rebelde vira entertainer.

Em 1961 dá-se o concerto ao vivo de James Brown que constituirá uma acto histórico da dinâmica do r'n'b, uma vez que a influência de Brown nunca deixará de ser notada na musica popular urbana, a começar pelo impacte que teve nos grupos Mod dos anos sessenta.

Em 1964 nasce a Beatlemania. Em 28 de Agosto desse mesmo ano os Beatles encontram-se com Bob Dylan no Hotel Delmonico em New York. Este oferece-lhes um charro e os outros quatro reconhecem que nunca tinham experimentado.

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Em Outubro de 2003, pela primeira vez, desde há 50 anos, a lista dos top 10 da oficialíssima Billboard americana só inclui músicos negros. A supremacia da música rap e da R & B é total.. É a música preferida dos adolescentes americanos , brancos e negros.

Sebastião Alba

Sebastião Alba foi um poeta marginal, sem-tecto, que vivia nas ruas da cidade de Braga, depois de ter passado grande parte da sua vida em África.
Vivia e escrevia poesia, palavras afiadas contra a civilização do ruído, do automóvel e da miséria.
Morreu atropelado por uma dessas máquinas volantes que andam atrás do tempo (!!!), por falta...de tempo! Sebastião Alba vivia à margem da civilização. Não queria emprego, não queria status, não queria TV, não queria dinheiro. E por isso mesmo era mais lúcido que muitos de nós... É que ele era capaz de ver o mundo de outra perspectiva.
O 4º livro de poesia e de aforismos de Sebastião Alba com o título singelo de "Albas" mostra-nos como a poesia pode ganhar vida.