28.1.05

Orwell versus Huxley

(Antinomia das concepções visionárias de Orwell e Huxley)

Georges Orwell e Aldous Huxley são dois destacados escritores ingleses do século XX que publicaram obras-primas da literatura mundial e que são conhecidas por todos.
Orwell escreveu variadíssimos livros como «1984», «Animal Farm», Homenagem à Catalunha ( um retrato da guerra civil espanhola) , etc. Por seu lado, Aldous Huxley é conhecido por ter escrito o «Admirável Mundo Novo» (Brave New World), uma espantosa descrição ( e previsão) das sociedades futuras.

Orwell advertia-nos na sua literatura para o risco de uma opressão ditatorial que seria imposta a todos nós, submetidos a uma vigilância e controle permanente.
Em oposição, Huxley tinha também uma perspectiva pessimista do futuro mas descrevia-o de forma muito diferente: para ele não seria necessário Big Brothers, ou uma vigilância do ditador sobre toda a população, pela simples razão que a autonomia e a capacidade de pensar dos indivíduos seria adequadamente neutralizada, e acabaríamos todos por adorar a própria opressão a que estaríamos sujeitos.

Podemos fazer um breve quadro comparativo dos dois tipos de futuros que os dois autores vaticinavam:

Orwell receava que os livros seriam objecto de censura, perseguição e interdição
Huxley previa que no futuro não seria necessário qualquer censura ou proibição sobre os livros perigosos ou subversivos, pela razão simples que nessa sociedade futura ninguém desejará ler livros.

Orwell receava que as informações seriam ocultadas e cuidadosamente seleccionadas pelos dispositivos do poder
Huxley, em contrapartida, previa que no futuro a população receberia tantas e tão variadas notícias e informação que tal avalanche acabaria por provocar nas pessoas uma atitude passiva face à realidade.

Orwell advertia-nos para o perigo do poder esconder a verdade.
Huxley previa que a verdade seria submergida por um mar de irrelevâncias.

Orwell receava que todos nós acabaríamos por nos converter a uma cultura fechada.
Huxley, pelo contrário, previa que seríamos inundados por uma cultura trivial, marcada por sensacionalismos e por predomínio das aparências.


Huxley escreve em 1958, vinte sete anos depois de Admirável Mundo Novo, outro livro de carácter mais ensaístico que ficcional com o título «Brave New World Revisited» em que trata de expor os métodos que tornariam real o Admirável Mundo Novo do futuro projectado, técnicas essas que serviriam para nos distrair e privar de liberdade como a lavagem ao cérebro, o controle químico pelas drogas ( e fármacos), o excesso de organizações, a propaganda ( subliminar, e não só).

Na utopia negativa de Orwell as pessoas são controladas pela dor, na concepção visionária de Huxley esse controle é conseguido pelo prazer, pelas distracções e pelo show-bizz ( espectáculo)

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Para obter mais informações, consultar:
Neil Postman, «Amusing Ourselves to Death», 1985






O «humanitarismo» lucrativo.

Há mais de 100 milhões de minas pessoais disseminadas pelo mundo inteiro. Estes artefactos continuam a explodir muitos anos depois do fim das guerras que tinha justificado a sua colocação. Algumas dessas minas têm o cinismo cruel de estarem desenhadas sob a forma de bonecas, borboletas ou objectos coloridos que facilmente chamam a atenção das crianças. E, realmente, verdade seja dita: as crianças acabam por ser metade das vítimas daquelas minas.
Paul Donovan, um dos promotores da campanha mundial pela proibição das minas pessoais, denunciou recentemente que as fábricas de armamento ( e de minas) encontraram uma nova galinha de ovos de ouro: estas empresas dedicam-se agora a oferecer os seus préstimos para limpar e desminar os terrenos onde foram semeadas tais minas. Aparentemente nada de anormal: ninguém melhor do que os próprios fabricantes a encarregarem-se do assunto. Acontece que o negócio da desminagem é altamente lucrativo: arrancar as minas custa 100 vezes mais que colocá-las!