18.1.05

A administração Bush é uma catástrofe ecológica

A administração Bush é uma catástrofe ecológica

Não faltam motivos de preocupação para os ecologistas norte-americanos.
“Há um sentimento generalizado de que a administração Bush é a pior de todas as administrações para as questões ambientais desde há muitas décadas” diz peremptoriamente Tony Juniper, director da Associação Amigos da Terra, citado pelo Financial Times.

Poucos dias antes do Natal de 2004 o presidente Bush anunciou uma reforma legislativa que visa facilitar a exploração comercial das florestas americanas.
A revisão da legislação de 1976 sobre gestão das florestas tem por objectivo dar aos responsáveis das 155 explorações florestais nacionais americanas maiores poderes de decisão sobre projectos ligados à exploração florestal, actividade mineira e petrolífera. E se os serviços florestais vêem na reforma uma forma de flexibilizar e conciliar as necessidades locais com a preservação da natureza, já os ecologistas não duvidam em considerar a medida como mais um ataque contra os dispositivos de protecção do ambiente que foram sendo aprovados ao longo do tempo pelas diferentes Administrações americanas.
Além dessa medida, é possível citar um monte de outras que são vistas como autênticos passos atrás em matéria de política ambiental. Indicam-se só a título de exemplo os casos das limitações à protecção dos habitats dos salmões e das trutas, a facilitação do uso dos pesticidas ou ainda o relaxe da legislação sobre a qualidade do ar.
A reforma da legislação sobre gestão florestal só veio agravar o descontentamento e o ambiente de crítica dos ecologistas contra a Administração Bush. Prevê-se que a contestação vá agravar-se ainda mais com a legislação que já se prepara sobre a exploração petrolífera no Alaska, e a revisão da lei sobre as espécies em perigo.Para além disso, aguarda-se a nomeação de um novo chefe da Agência de protecção do Ambiente que, segundo tudo indica, será mais um ultra conservador que tornará mais tensas e cerradas as críticas dos ecologistas a Bush e à sua Administração.






A Simplicidade Voluntária

A Simplicidade Voluntária

Vivemos numa sociedade de consumo em que as pessoas acreditam que comprando, acumulando bens e objectos, possuindo cada vez mais…se tornam mais felizes. Quem realmente se aproveita deste excesso consumista ( as grandes empresas multi e transnacionanais) manipulam-nos através de artifícios como a moda, a publicidade e os meios de comunicação; criam constantemente novas necessidades e distribuem ilusões a torto e a direito. Este modo de proceder é apoiado pelos governos que sempre defendem um crescimento a qualquer preço. E a verdade é que têm tido sucesso,uma vez que o consumo e a presença da técnica nas nossas vidas não cessam de aumentar.
Um consumo deste tipo tem, todavia, inúmeras consequências. Primeiro sobre o meio ambiente: os recursos escassos diminuem a olhos vistos. Mais graves são, porém, o lixo e os resíduos que são assim gerados e cujos efeitos provocam as alterações climáticas e a contaminação do ar e da água. Actualmente consumimos para além das capacidades do planeta, o que significa simplesmente que estamos a pôr em causa o futuro das gerações vindouras. E a responsabilidade por este estado de coisas é nossa, os residentes dos países industrializados. É que não se podem imputar as culpas a 80% da população da Terra que, as mais das vezes, não têm sequer o necessário para sobreviver. Se todos os habitantes do planeta consumissem tanto como nós, seriam precisos 5 planetas Terra para satisfazer esse caudal de consumo. Não tenhamos a ilusão: todo o mundo aspira a viver como nós, depois de nós mesmos termos generalizado a ilusão que essa é a melhor maneira para se viver.

Libertar-se do consumo

O consumo excessivo tem efeitos sobre as nossas próprias vidas. Para consumir tal como fazemos precisamos de dinheiro; logo, em consequência, a maioria das pessoas trabalham desalmadamente. No Canadá, por exemplo, cerca de 20% da população activa trabalha mais de 50 horas por semana. Esgotamo-nos a trabalhar, dando o melhor do nosso tempo e das nossas vidas para o trabalho; enquanto isso, outras vertentes da nossa existência ( a família, a vida amorosa, a participação cívica e a vida comunitária, a saúde,…) sofrem com essa quase exclusividade que o trabalho exige. Acaba-se de chegar a um paradoxo: quanto mais satisfeito formos na vida material, menos felizes sentimos. E há cada vez mais pessoas que acham que isso não tem sentido, e que há que fazer algo para mudar esta situação. Mas o quê? Os governos e os partidos não dão respostas alternativas, empenham-se antes em seguir a mesma direcção tal como têm feito até agora. Ora há que ultrapassar este bloqueio E é isso justamente o que propõe a Simplicidade Voluntária: empreender as mudanças necessárias nas nossas vidas.
Não confundir a Simplicidade Voluntária com a pobreza; esta é imposta por força de circunstâncias penosas. Mas quando se opta voluntariamente por viver sobriamente,tudo funciona de modo diferente. É que não nos sentimos frustrados porque nos privamos de um bem, mas antes sentimos que vale a pena substitui-lo por algo que tenha mais sentido. Este desprendimento alarga o espaço para a nossa consciência operar de outra forma: trata-se de um estado de espírito que nos convida a apreciar, a saborear e procurar o elemento qualitativo da vida. No fundo, renunciamos aos objectos que estorvam, travam e impedem irmos até ao fim das nossas possibilidades.” Não é a riqueza, mas o apego à riqueza que é um obstáculo à emancipação; e não é o prazer da busca por coisas agradáveis que está em causa, mas sim o desejo ardente de as adquirir”, escreve Schumcher (1911-1997), autor do livro Small is Beautiful.
A Simplicidade Voluntária leva-nos ao não-uso e à não-posse de algo, implica uma escolha: não comprar certo objecto ou não seguir determinado procedimento implica uma escolha por um outro motivo de satisfação, nem que seja ser fiel aos nossos princípios ou aos nossos compromissos sociais.
Escolher não utilizar certo bem ou serviço, não seguir a moda, consumir de outra maneira, tudo isso releva de actos de consciência e de lucidez, e não de fatalidade. Na verdade, quem faça voluntariamente este tipo de opções sabe que podia não o fazer, e acaba por ser o próprio a dominar a situação em vez de se um ser dominado por esta. Claro está que não se trata de decisões irrevogáveis que arrastam consigo um radicalismo sem concessões, nem sequer de uma regra de aço que dificilmente poderíamos desvincularmo-nos. A Simplicidade Voluntária é uma opção que é tomada mediante pequenos passos, uma via que se segue por decisão própria e porque nos sentimos satisfeitos por seguir.

A sobriedade

Simplicidade Voluntária não se confunde com ascetismo; é, até mesmo, a sua antíteses. O asceta priva-se voluntariamente dos prazeres da vida materiais em busca de um ávida espiritual mais intensa; ora o adepto da Simplicidade Voluntária não foge do prazer nem das satisfações. Muito pelo contrário. Ele procura-os, mas entende que os não alcançar com os meios que lhe dá a sociedade de consumo.
O medo constitui o obstáculo mais sério para uma opção destas, a favor da Simplicidade Voluntária. Receio do que os outros vão pensar, quando nos afastarmos do seu estilo de vida; receio de sermos marginalizados, e de sentirmos inseguros face ao futuro, pois nos tempos que correm de um individualismo feroz, estamos habituados a pensar por si mesmos, a contar só connosco perante as contrariedades da vida. Quem quererá ajudar-me se não tenho dinheiro, quem me ajudará quando for velho? Protegemo-nos então com seguros, planos de reforma, depósitos bancários, etc.E quando tivermos o futuro assegurado podemo-nos dar ao luxo de viver mais livres, não sendo necessário trabalhar tanto. Acontece, porém, que cada ano que passo damo-nos conta que o dinheiro acumulado não é suficiente…
Evidentemente que, se um destes dias, alguém deixar o emprego, vender o seu carro, e começar a consumir só o que produz, a catástrofe não tardará a chegar. Mas a verdade é que a Simplicidade Voluntária é um processo gradual; e não é um fim mas antes um meio para chegar uma melhor bem estar. Com o passar do tempo cada qual poderá aprofundar mais o seu compromisso graças aos momentos de liberdade que vai conquistando e aos laços de solidariedade que vais desenvolvendo para a indispensável segurança afectiva.
Não é fácil abandonarmos o universo do consumismo. Hoje em dia, tudo nos empurra a encontrar em alguma forma de consumo a solução dos nossos problemas, e a satisfação dos nossos desejos. Não é por acaso que as lotarias passam mensagens do tipo “ganhando o primeiro prémio tem os seus problemas resolvidos”. Mas tal não passa de uma ilusão: aquilo a que tão ardentemente aspirávamos, acaba rapidamente de perder interesse logo que o obtivermos, não constituindo os bens materiais formas seguras de satisfazer as nossas mais profundas necessidades.
A Simplicidade Voluntária constitui actualmente o movimento social que ganha cada vez mais força. Não cessam de aparecer livros, contactos e interessados. Existe já vários sites directa ou indirectamente relacionados. Há que fazer o possível para dar a conhecer a Simplicidade Voluntária como meio de controlarmos as nossas vidas


Serge Mongeau ( autor do livro La Simplicité Voluntaire)
(este texto apareceu na revista The Ecologist)


www.simplicitévoluntaire.org
www.simpleliving.net







A Geração Shopping

(reprodução de um texto de Arnaldo Saraiva, publicado no Jornal de Notícias)

O melhor emblema e o maior pólo de atracção social das grandes cidades foi, durante séculos, a catedral.
À volta dos anos 60,porém, a catedral ( como a igreja em geral) perdeu muita da sua frequência e da sua importância ou do seu prestígio. Dois outros lugares passaram a concorrer com ela: o estádio, que todavia, mobilizava quase só a população masculina; e sobretudo, o banco. A vitória do banco sobre a catedral; às vezes até verificável na altura e na opulência das construções, sinalizava uma verdadeira revolução nos costumes e nas mentalidades, mesmo que sinalizasse também alguma degradação, sugerida logo pelos nomes ( «catedral» tem que ver com «cadeira», «cátedra»).
Duas décadas depois, multiplicaram-se os frequentadores dos bancos, mas estes transformaram-se em lugares tristes, friamente burocráticos, e até acanhados, com funcionários circunspectos e automáticos, com bichas permanentes, com horários tontos. Longe vão os tempos em que os bancos portugueses nos deslumbravam com os seus mármores, pinturas, tapeçarias, mobílias; longe vão os tempos ( e só passaram duas décadas) em que os bancos nos ofereciam – com sorrisos e reverências - álbuns, calendários, pastas, cinzeiros e livros de cheques, que agora saem logo da nossa conta.
À entrada dos anos 80, o grande centro de atracção social das grandes cidades já não era o banco, mas o supermercado, e cada vez mais,o…centro comercial.
Ampliações das drogarias que já ampliavam os bazares medievais, os centros comerciais são miniaturas das ruas, das cidades e até do país produtor e consumidor. E não se pense que são simples lugares comerciais, que convocam todas as artes e artimanhas do consumo; porque são também lugares da festa possível, densos de vibração estética e até sentimental, que favorecem a distracção, o passatempo, o flirt e o engate.
Nos seus largos corredores centrais ou nas suas artérias não por acaso labirínticas, nos seus jogos aquáticos, nas suas plantas, mesmo que artificiais, nas suas escadas-rolantes, nas suas cores, nas suas luzes, nos seus vidros e espelhos, nos seus proliferantes sinais visuais, na variedade dos seus espaços e das suas respectivas funções ( o quiosque, a pequena boutique, a grande loja, a tabacaria, o pub, o cinema, o restaurante, o cabeleireiro, a agência, a sala de flippers, a livraria, a discoteca, etc; só falta, curiosamente, a capela, o centro comercial faz o possível para atenuar a secura e a agressividade do produto comercial e sabe envolver o consumidor numa atmosfera moderna, cosmopolita, confortável, festiva, capaz de gerar, rapidamente, um caleidoscópio de emoções.
Como disse Jean Baudrillard, o centro comercial reconcilia «o pequeno e o grande comercio», «o ritmo moderno e a antiga passeata», estimula a »errância lúdica» e a prática combinatória; sublima a vida real e a vida social objectiva, acabando por «abolir não só trabalho e o dinheiro mas também as estações», «pois oferece uma Primavera perpétua, pouco importa se artificial».
O centro comercial parece pedir ou corresponder a um novo tipo de consumidor: simultaneamente mais apressado, mais exigente, mais moderno e mais cosmopolita do que o das décadas anteriores. Não é por acaso que ele com-centra produtos sem abolir a sua variedade, selecciona sem esmagar com a quantidade ( no que contrata com o supermercado). Como não é por acaso que se dão a centros comerciais nomes cosmopolitas como Brasília, Itália, Newark, Dallas. Como não é por acaso que se diz «shopping center» em vez de centrocomercial.
Em 1965, ao deparar, no Rio de Janeiro, com o Shopping Center de Copacabana, perguntava-me se a língua portuguesa não servia para designar um lugar assim. Mas o problema, evidentemente, não era nem é de língua – era e é de «business», de «marketing», e também de moda, naturalmente ditada pelo modelo americano.
Curiosamente é um jornalista brasileiro, Pedro Zan, que, quase vinte anos depois, caracteriza a nova geração brasileira, em especial, a paulista, como uma «geração shopping»: «Chegam a pé ou em carros desportivos equipados. Entram em lojas, passeiam, descontraídos, pelos corredores. Gastam muito com os cheques dos pais. Ou, simplesmente, perguntam os preços sem levar nada. Gostam de roupas largas, folgadas, de cores cítricas, da moda Muitos não querem ouvir falar de política, nem lêem livros. Preferem curtis o «brake», «funk» ou «new wave»…»
A geração shopping portuguesa não terá todas as características da brasileira, mas ninguém duvidará que ela existe, até mesmo onde menos se espera ( nas artes, nas letras, por exemplo). E de algum modo todos pertencemos à geração shopping se não resistirmos ao fascínio do consumo e se não nos recusarmos a frequentar a moderna feira que é o centro comercial.
Acontece apenas que nem todos irão ao centro pelas mesmas razões. Alguns terão de contentar-se apenas com a festa da visão ou da comida ligeira: sanduíches, hamburgers, gelados e, agora, croissants. Outros,porém, poderão perder-se na euforia do grande consumo.
Cansados da vida, da miséria, da política, da crise, do trabalho, e também do desemprego, nem uns nem outros, porém, se disporão a ver no centro comercial o diabo que, afinal, já se manifestava no Auto da Feira de Gil Vicente:


Vender-vos-ei nesta feira
Mentiras vinte três mil,
Todas de nova maneira,
cada uma tão subtil,
que não vivais em canseira:
mentiras para senhores,
mentiras para senhoras,
mentiras para os amores,
mentiras, que a todas as horas
vos nasçam delas favores.
E como fomos avindos
Nos preços disto que digo,
Vender-vos-ei como amigo
Muitos enganos infindos,
Que aqui trago comigo












O papel higiénico como meio de defesa

Reynaldo Peters (Oruro, Bolívia, 1950) é um advogado que guarda entre as suas coisas mais queridas um pedaço de papel higiénico, onde escreveu, com letra liliputiniana, o seu Habeas Corpus ( isto é, a petição a um juiz a fim que esta decida sobre se uma detenção é ou não é legal) quando se encontrava preso durante a ditadura de Hugo Bánzer em 1972 pelo facto de ser militante do Movimiento Nacional Revolucionário.

O documento foi considerado monumento jurídico e recebeu um prémio dos Direitos Humanos da Associação Internacional de Advogados com uma especial dedicatória:
“ Ao papel higiénico, instrumento de liberdade”.

Reynald Peteres recorda que na prisão corre-se frequentemente perigo. À falta de material adequado lembrou-se de recorrer a este frágil meio de escrita para fazer valer os seus direitos. Meteu na roupa suja que enviou à mulher, e o documento acabou por aparecer na imprensa .